Quando tudo parecia conspirar contra o surgimento do LE SSERAFIM, o tempo mostrou que elas ajudariam a definir as formas da quarta geração do kpop se consolidando como um dos grupos mais importantes da atualidade. A HYBE soube trabalhar bem a sonoridade delas até o momento, dando uma porção de demos bucetudas e que se afastam da ideia de pop convencional a fim de se comunicar com o que vinha acontecendo no restante do mundo quase em tempo real. 

Pra fechar essa trilogia de estreia, chamaram o fodão do Nile Rodgers pra dar sua canetada extremamente fantástica, ou seja: a expectativa de todo mundo foi lá pra cima. Porque se Fearless provou ser um hit orgânico e Antifragile, com todas suas influências puras do reggaeton, explodiu logo na estreia, uma parceria entre esses dois nomes poderia acabar com o mundo em glitter. 

E aí tivemos Unforgiven…

…que é uma música, de fato. Dá pra ver que ela tenta ser vanguardista assim como Antifragile foi no momento em que saiu, e até consegue. Nos primeiros 40 segundos, Unforgiven até entretém. Na verdade, ela desperta uma curiosidade em saber onde esse instrumental exageradamente country vai dar, e como tudo isso vai se desenrolar como pop. Ignorando a intervenção de 20 segundos de uma trajetória de uma flecha minúscula que explode um veículo e bota fogo em uma das asas da Kazuha até a música ser retomada, eu percebo que essa virada pop nunca vai vir. E o mais importante de tudo: não tem a porra do Nile Rodgers. 

Não vou dizer que eu esperava a próxima Le Freak ou um sample milionário de Good Times, mas o Nile já produziu tanta coisa boa. Uma versão repaginada ou algo semelhante a Cat People, do Bowie, tem a obscuridade precisa que os teasers indicaram. Indo pra um outro lado, I’m Not Perfect, da Grace Jones, é extremamente transgressora e combina muito bem com a imagem que o LE SSERAFIM quer passar pro mundo. Ou sei lá, só de deixar o Nile Rodgers fazer o que ele sabe já tava de bom tamanho, mas eu tenho certeza que o fudido do Bang PD deve ter feito a cabeça do coitado pra produzir… Isso aí.

Mas eu também reconheço o pano de fundo cultural de Unforgiven, como por exemplo usar o tema icônico do filme Três Homens em Conflito, que é basicamente o que vem na cabeça de todo mundo quando a gente pensa em faroeste. E não vou negar dizendo que o tratamento que deram pro sample deixou tudo muito dinâmico e divertido, tanto que, combinado com os “unforgiven I’m a villain” em looping, eu gosto bastante, mas só nos primeiros segundos. Daí pra frente, Unforgiven cai numa espiral e não sabe muito bem o que fazer com isso, então ela acaba virando uma irmã mais feia de Antifragile. 

Enquanto eu ainda ache o LE SSERAFIM um desses poucos atos da quarta geração que são essencialmente interessantes de se acompanhar, elas correm um risco imenso de virarem um símbolo enorme de pedantismo. A produção de Unforgiven faz com que elas soem tão chatas quanto o Blackpink atualmente, e nem de longe é o que eu desejo pro grupo. A minha dica seria: se forem contratar alguém tão pirocudo quanto o Nile Rodgers, então que deixem o cara pensar como se ele estivesse no auge da sua criatividade musical nos anos 70 e 80. E se ele quiser fornecer uma demo engavetada do Chic assim como quem não quer nada, melhor ainda; por aqui nós gostamos disso. 

Escute também: No-Return (Into the unknown)

Você também caiu no conto do falso full álbum? Porra, HYBE, isso não se faz… Tudo porque tavam com fogo no rabo pra eliminar a existência da Garam regravando músicas antigas, sendo que o primeiro EP tá lá pra todo mundo ouvir, sabe? E conseguiram vender mais de um milhão de cópias com essas novas versões inclusas, o capitalismo é assim… Desprezível. Obviamente eu não me dei o trabalho de ouvir tudo e fui direito pra segunda parte que me interessa: No-Return é uma graça. Ela começa como um retrô inocente e bem colorido, mas quando os trompetes entram, eu me arrepiei todinha. Vou tentar falar do álbum-não-álbum mais pra frente no mês, mas essa deve ser uma das melhores album tracks do ano. 

Vocês sabiam que agora eu vendo minhas artes? Lá na Colab55 tem algumas opções de produtos com estampas que eu fiz e você pode comprar pra ajudar essa pobre coitada que escreve o blog.

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