Apesar do nome sugerir, o PIXY tá bem longe de ser ruim em Villain

Pra quem lembra, o PIXY já foi um problemão aqui no blog, no sentido musical mesmo. Elas debutaram com uma das coisas mais terríveis que eu já tinha escutado e, somando ao fato de estar medicada no dia, eu escrevi um dos textos mais raivosos do AYO GG e que, curiosamente (mas não surpreendente), foi o mais visto por uns meses. O blog era novinho e eu escrevia mal (não que hoje eu escreva bem), mas vale a pena ler

Enfim, eu já tinha comentado ao longo do ano passado que o PIXY sabe servir b-sides e album tracks como nenhum outro grupo hoje em dia, e não só isso: a cada lançamento, elas vinham aperfeiçoando essa característica. Só faltava uma title arrebatadora mesmo pra elevar as fadinhas sem asas a um status de nugas preferidas da blogosfera, que ficam num hall especial e seleto de nugas preferidas da blogosfera. 

Será que Villain finalmente vai conquistar esse título pro PIXY?

Se você quiser a resposta curta pra essa pergunta, é simplesmente um sim. Agora, a versão longa sou eu rasgando elogios pra essa nova fase do grupo que, apesar de estar como um quinteto, ainda consegue preencher as lacunas que a outra integrante que tá afastada por problemas de saúde deixou. Villain é de encher os olhos e, pela primeira vez na carreira, os ouvidos. É quase um soco visual embalado num instrumental mais etéreo, místico; uma combinação que dá pra descrever como paradoxal, termo esse que permeia toda a estética do lançamento.

Assim como o trecho da música canta “eu me olho no espelho/como se isso fosse o começo do fim/quem sou eu, me pergunto/assim como o paradoxo da bondade”, Villain toma como ponto de partida um livro chamado O Paradoxo da Bondade, escrito pelo antropólogo inglês Richard Wrangham. Nele, é descrito que os seres humanos são potencialmente bons e maus, e que, ao longo da nossa linha evolutiva, aprendemos a domesticar nossa raiva. É tão interessante ver que a empresa foi buscar um conceito tão underground sobre evolução humana pra se conectar com a história do PIXY que, mais que o single, eu fiquei fascinada na construção do enredo.

Wrangham diz que o Homo sapiens passou a se domesticar de 30 a 12 mil anos atrás, com a construção de normas sociais e a teoria primitiva de moral. Como a lore do grupo é a respeito de fadas que nasceram sem asas, dá pra conectar muito bem os três lançamentos anteriores, que eram mais brutais e crus, com Villain. O MV mostra essa dinâmica entre o bom e o mau dentro delas o tempo todo, e como elas se camuflam na sociedade, contrastando com as cenas explícitas de violência (e que eu não faço ideia de como passou nos censores coreanos). A letra é mecanizada de propósito, como uma canção perdida no tempo sobre sentir as memórias de bebê (ou seja, antes da evolução) fragmentadas e como esse conceito de bem e mal intrínsecos faz com que elas percam a própria identidade de vez em quando.

Como música mesmo, Villain é a melhor title do PIXY até aqui. Não é de hoje que elas vêm explorando essa veia eletrônica: nos EPs lançados a gente consegue ter um punhado de exemplos legais nesse nicho. Faltava só trabalhar isso num single, e elas fizeram isso muito bem… Bom, tirando a primeira leva de versos onde o instrumental estranhamente desacelera e acaba me remetendo ao trap horroroso que o grupo lançou na estreia. Mas é bem curioso como essa parte é bem curta e, logo em seguida, Villain recupera o fôlego repetindo o refrão num loop hipnótico, entregando um dinamismo maravilhoso. A partir daí, a experiência com o comeback do PIXY só melhora.

É fato que a quarta geração tem entregado umas coisas pretensiosas demais, com conteúdo de menos, mas o PIXY se mostra como um ótimo candidato a se tornar líder a ser seguido dessa safra de grupos com enredo por trás. Tudo isso vindo de um muquifo com três funcionários. A grande vantagem delas pro aespa, por exemplo, é que é possível conectar a lore a teorias reais, mesmo que a possibilidade de usar O Paradoxo da Bondade nunca tenha existido a não ser aqui nesse post. Ainda que a história de fadas sem asas seja muito distante do nosso mundo, números como Villain tornam a experiência muito mais imersiva e interessante.

Escute também: Natural

Normalmente eu não tenho problemas com os EPs do PIXY, então não é surpresa que a qualidade desse aqui esteja bem boa. Reborn trabalha algumas sonoridades que o grupo já explorou outras vezes, mas sem cair na mesmice, como por exemplo Natural. Existe uma coisa retrô aqui, que também não é característico de hoje, mas o punch mesmo tá na pegada disco melancólica. É aquela velha sensação de uma festa muito boa chegando ao fim, quando o DJ vai tocando umas músicas meio obscuras e desconhecidas pra ir espantando a galera que sobrou, mas a gente continua balançando o corpo por não querer ir embora. Não é nada parecida com a title, porém é tão boa quanto. 

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