(G)I-DLE botou mais do que um cropped e reagiu pra caralho em Tomboy

Outra notícia que não acreditamos: o comeback do (G)I-DLE, que estava respirando por aparelhos depois do escândalo de bullying da agora ex-membro Soojin contra uma menina aí que é uma atriz fuleira e, na real, a história nunca foi realmente comprovada. A gente sabe como a Coreia do Sul lida com casos assim no meio idol depois da grande novela que foi o T-ARA pós Hwayoung, então foi um grande choque e causou comoção, já que o grupo vinha numa crescente muito boa, principalmente depois do Queendom.

Eu não tava aceitando que elas morressem com Hwaa (que não é ruim, mas também não é como se a Soyeon não tivesse reciclando a mesma música desde o debut), mas o (G)I-DLE renasceu tal como uma fênix, segurando seu primeiro “full” álbum de nome extremamente simbólico e a imagem toda reformulada. Spoiler: talvez um dos melhores conceitos de comeback pós-polêmica da história. 

Então levanta gay, entra no carro e bora ouvir Tomboy!

Por dentro, eu to [fogos de artifício] [vuvuzela] [cachorro gritando] [panela caindo] [buzina de caminhão] [UEPA], mas vou tentar me controlar pra tentar desenvolver esse post da maneira mais racional possível. O (G)I-DLE nunca foi um grupo convencional. A Soyeon sempre teve muita liberdade criativa dentro da Cube, então ela meio que escalou um time de meninas ali que faziam sentido pro projeto que ela estava pensando. E como a Soyeon não gosta de dar ponto sem nó, o nome também precisava ter significado, algo que fizesse jus a esse novo grupo; surgiu (G)I-DLE, onde cada uma das partes do nome representa a personalidade de uma garota. Que são idols ao mesmo tempo que são indivíduos. Que existem separadas ao mesmo tempo em que coexistem numa unidade. 

Quando a Cube resolveu terminar de vez o contrato da Soojin, os teasers do novo álbum já estavam rolando há uma semana, mas a geladeira que a empresa deu nela vem de muito tempo, desde quando jogaram a menina no fogo pra se resolver sozinha com a atriz, marcando reuniões e escrevendo cartas do próprio punho. O que rolou, conhecendo por cima o grupo, foi algo assim: “a Soojin existe sozinha, mas o (G)I-DLE existe sem a Soojin?”. Foi aí que a grande sacada desse comeback surgiu. O álbum, cujo nome não podia ser mais emblemático, era um grito de guerra de quem sobrou: EU NUNCA MORRO! E o G, que já é silencioso quando a gente verbaliza o nome do grupo, sumiu de vez. Luto com luta.

Eu nunca esperei que o (G)I-DLE baixasse a cabeça ou fingisse que o caso, que tomou mais de um ano até ser concluído por “falta de provas”, nunca tivesse existido. Na verdade, o que me surpreende é o fato de terem transformado essa dor (de terem sido expostas nisso tudo) em resistência, e esse é o tipo de coisa que você não vê dentro do kpop. Saídas de integrantes são algo para dentro dos bastidores, é lá que você deve sofrer, jamais trazer isso pra superfície. Porém, como eu disse no começo, o (G)I-DLE não é um grupo convencional. A perda da Soojin viraria algo nas mãos da Soyeon, e que bom que virou Tomboy. 

O que faz de Tomboy ser uma música tão legal não é só o fato dela ser boa, mas como ela representa essa quebra de uniformidade nas faixas do (G)I-DLE. É aquilo: os lançamentos seguintes sempre se seguravam no anterior, agarrando coisas que já haviam sido agarradas em outra oportunidade, e aí o comeback era sempre aquela chatice de moombahton derivadíssimo e cansado, com um elemento novo ali e aqui pra dar a falsa impressão de que a gente tava consumindo um produto novo. Agora, pela primeira vez na história do grupo, elas se jogam pra fora dessa zona de conforto sonoro. Tomboy não tenta parecer rock; é rock de verdade, sujo, escrachado, tem misandria, tem drive de guitarra e tem palavrão censurado. 

Aliás, vamos falar de outro tópico usando o último comeback que eu comentei aqui. Lembram quando eu falei sobre masculinizar grupos femininos com essa premissa de mudança de imagem e maturidade tosca? Então, o (G)I-DLE faz a mesma coisa (o nome da música já diz tudo), mas por que nelas parece tão legal? É porque elas têm o conteúdo exato pra fazer o conceito ficar assim. Quando elas resolvem se manifestar, da maneira delas, em relação ao caso da Soojin e a indústria num geral, é como se elas pensassem e agissem feito um… Homem. Afinal, a figura masculina é muito valorizada na sociedade coreana. Só que, ao se declararem tomboy, termo criado para designar meninas que se comportam feito homens, o (G)-IDLE mantém sua postura feminina, ainda tão pouco viabilizada por lá, pra escancarar assuntos que deveriam permanecer escondidos. Mulheres agindo feito homens sem deixarem de ser mulheres. É mais do que o “empoderamento bonitinho” que as empresas engarrafam nos seus girlgroups hoje em dia. 

Ou eu só to procurando pelo em ovo pra poder justificar o quanto eu gostei, mas o fato é que o (G)I-DLE reagiu até demais com essa daqui. Tipo, elas não precisavam se desgastar com o assunto, poderiam ter deixado pra lá e conversarem sobre isso nos dormitórios, mas a Soyeon pegou todo mundo na mãozinha e falou “não, meninas, a gente vai transformar o enterro da Soojin numa festa”. E deu certo. Tomboy é o pacote completo de um comeback: a música é boa, o MV é maravilhoso e faz jus aos teasers, as integrantes estão no auge da beleza. Mas, mais do que isso, Tomboy quebra paradigmas que a próprioa Soyeon estabeleceu lá no começo, e tem um significado pro grupo e pra quem acompanha de fora. É forte e é subversiva. Como foi dito no livro Women and Economics, da Charlotte Perkins Gilman, tomboy é não ser mulher até que se chegue a hora de ser.

Escute também: Liar

Como eu queria que o I Never Die fosse um álbum conceitual inteiramente de rock… Mas, bom, estamos falando de kpop e é óbvio isso nunca vai acontecer. A boa notícia é que ele não tá ruim de ouvir, só a tracklist que é curta demais pra ser chamada de “full” e, das oito músicas, menos da metade são aproveitáveis. Como eu previa, gostei de todas as faixas que puxaram meu lado rock wins, e Liar é a melhor delas por ser uma versão mais dramática da title. Dramática no sentido de pomposa mesmo, é um arena rock meio Queen nos seus melhores anos, invocando toda aquela vibe de show em estádio. Não sei quem organizou a ordem das músicas, mas acho que Liar seria um ótimo fechamento pro álbum, ainda mais por se conectar liricamente com Tomboy. É como se fosse um ciclo que nunca termina, dando ainda mais significado pro título do álbum. Cube, me contrata aí, na moral.

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7 comentários sobre “(G)I-DLE botou mais do que um cropped e reagiu pra caralho em Tomboy

  1. Tinha terminado seu último post dos melhores dessa primeira metade do ano e já vim correndo reler essa beleza. Acho que esse é meu post favorito seu, fico relendo e pensando: “UAU que escrita!”

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