Se você, leitor, perguntar quem é Perfume nesse blog, você tá maluco. As lendas da música eletrônica japonesa, que lançaram MVs revolucionários e que desafiaram muitas vezes a lógica, ultrapassando todos os limites do possível, mas nenhuma tecnologia usada chegará no valor do cabelo milionário que a Kashiyuka cultivou por todos esses anos. 

Depois de dois álbuns fraquíssimos por conta da falta de rola inspiração do Nakata, o Perfume parece que voltou a andar nos trilhos, entregando faixas divertidas e até com o mesmo pulso do que elas já lançaram na sua época mais bem sucedida. Agora que o próximo filho da discografia foi confirmado (deve sair em qualquer momento desse ano ainda), a gente fica ansioso pra ver qual rumo os singles novos vão levar. 

Prontos pra serem arrebatados por Flow?

Fato curioso sobre o título: no mesmo dia em que o Perfume anunciou esse novo single, o [censurado] foi expulso do podcast lá e simplesmente sujou a hashtag. No meio de pessoas xingando e outros milhões de memes sobre a situação, tava lá o tweet solitário do perfil oficial do grupo soltando a primeira prévia das fotos promocionais. E eu achei isso tão engraçado no dia… Não sei se o assunto do podcast chegou a nível mundial no Twitter, mas imagina as monas pensando que elas tavam abalando nos trending topics só pra decepção/confusão tomar conta com um monte de foto de um feioso? Certamente um dos melhores fatos aleatórios e nichados do ano.

Pois bem, tudo fica ainda melhor quando a gente vê que Flow é mais um dos louvores eletrônicos produzidos pelo Nakata. Ele fez um monte desses nos últimos trabalhos do Perfume, principalmente no Future Pop, só que, para além da coincidência hilária, a música é boa. Diferente de outras tentativas extremamente irritantes ou chatas, Flow tem um certo dinamismo que faz com que a faixa soe agradável. Ultimamente, o Nakata tem brincado demais com as sensações que as músicas do trio passam, fazendo com que o sentir seja tão ou mais forte que o ouvir, resultando nessas produções 3D. 

E é interessante comparar com o lançamento anterior. Polygon Wave tem um instrumental forte, constante, que me lembra muito Pong, aquele joguinho antigo do Atari que era uma espécie de ping-pong onde um quadradinho batia de um lado pro outro. É quase como se, ao ouvir, vários polígonos se formassem na minha cabeça, como uma indústria automatizada. Por outro lado, Flow é leve. Parece um comercial de amaciante, que um vento imaginário sopra e faz com que o vestido tenha várias camadas enquanto o perfume (no pun intended) do produto voa pela cidade. 

Porém, o mais legal é que, apesar de passarem sensações diferentes, não tem como definir esses dois últimos trabalhos do Nakata pro Perfume como outra palavra que não seja abstrato. São abstrações distintas: uma mais matemática, robótica, exata; a outra mais dinâmica, solta, delicada. Flow é simples, mas é um ótimo exemplo dessa variedade de coisas que o Nakata consegue fazer quando tá inspirado. Um hyperpop limpinho, contido quando precisa, explosivo nas horas certas, e o baixo eletrônico é simplesmente maravilhoso. 

No fim, Flow do Perfume venceu o fracassado do Flow Podcast, que precisou ferir 850 direitos humanos pra ter alguma relevância e cair na boca do povão. O meu trio de gatinhas, pelo contrário, continua lançando música boa na sua melhor fase desde 2016. E mesmo que não seja exatamente tudo aquilo que a gente esperava, não tem muito o que cobrar do Nakata; ele também tá na sua melhor forma depois de muito tempo, entregando trabalhos decentes pra todos os atos que produz. Depois da ótima Polygon Wave, eu decido navegar na calmaria dessa nova música, e rezar pro grupo se manter relevante o suficiente por mais duas décadas. 

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