Esses últimos dias não têm sido fáceis para a blogueira aqui. Uma onda de sensibilidade me invadiu sem aviso, despertando meus pensamentos mais auto-depreciativos, tão violentos que fariam Bo Burnham, a pessoa mais auto-depreciativa da qual eu tenho conhecimento, se contorcer em repulsa. Às vezes, a mente de uma adulta à beira dos trinta pode ser um lugar encantador.
No entanto, essa instabilidade emocional foi o menor dos fatores para o AYO GG estar menos movimentado recentemente. É consenso entre todo mundo que frequenta esses becos insalubres que são os blogs fundo de quintal da internet brasileira que o carro-chefe da indústria musical asiática está uma bosta. Maio/25 foi o pior mês da história do kpop. Sim, exatamente. Eu sei que o BTS lançou a pavorosa Fake Love em maio de 2018 e foi o momento de maior perigo para o relógio do fim do mundo desde 1953, quando EUA e União Soviética testavam suas bombas atômicas, mas, mesmo assim, ainda tinha emoção. Nós não tivemos emoção em maio/25. Não tivemos nada além deste lixo viralizando, o que eu acho extremamente ofensivo.
Dito isso, quero usar esse post para comentar algumas músicas recentes do pop asiático que deixei passar desde a volta do blog e que tentaram despertar algo em mim que não fosse a latente sensação de incompetência que esse mundão capitalista baseado em utilidade humana tem me feito sofrer.
yeule – Evangelic Girl is a Gun: Linda canção. Eu não conhecia nada de yeule além do nome e sei que elu lançou um álbum em 2023 que críticos especializados elogiaram bastante, mas, no desespero diante à apatia do kpop, eu me agarrei muito nessa sonoridade. Essencialmente um batidão, mas parece a continuidade de um Night Time My Time que a ex-cantora Sky Ferreira trilharia caso ela ainda se lembrasse da sua carreira. Outras faixas do álbum que saiu no último dia de maio também são fantásticas.
noa – Pink Punch: Uma pena que meus colegas blogueiros não tenham prestado atenção nessa daqui. Descobri pelos posts de jpop do The Bias List (de vez em quando ele presta um bom serviço que não seja avaliado em 845 critérios diferentes) e curto muito até hoje. É como se fosse a trilha sonora de uma batalha final de um anime tipo, sei lá, Mob Psycho 100. Artistas indie japoneses sempre vão surrar os coreanos chatos de cafeteria.
PiXXiE – Toxique: Uma das coisas que eu mais sinto saudade no kpop é a nuance. Aquilo de juntar meia dúzia de gostosas e fazer elas rebolarem em cima de um R&B sensual cheio de metáforas, gemendo sobre um amor impossível porque talvez ele seja casado ou algo assim. O pop tailandês entrega muito nesse sentido. Toxique podia ser qualquer cocô do LE SSERAFIM, mas eles sabem dar nuance pras coisas e é o que torna o cenário tão interessante aos ouvidos.
no na – superstitious: Como o Lunei bem disse no post dele, é impressionante a roupagem à la Reboot, das Wonder Girls, reproduzida com tanto esmero por um quarteto filipino, como se o próprio JYP estivesse envolvido na empreitada. Mas o que mais me encanta em superstitious é esse choque que visuais e sons despertam quando encarados ao mesmo tempo, porque aqui não tem luz neon ou um globo espelhado ou ombreiras oitentistas que remetam à época, tal qual I Feel You fez em 2015. Temos uma praia, temos cangas e florzinhas decorando os cabelos, temos uma cabana tropical no meio da floresta. É tão mágico, tão refrescante, tão diferente.
Lexie Liu – FFFFF: Enquanto ela não lança algo tão extraordinário quanto o The Happy Star, vivemos de singles soltos. Confesso que Pop Girl caiu rápido na minha playlist, não sei dizer o porquê. Já FFFFF tem crescido aos poucos. A pegada emergente bloghouse, meio DIY, gravado com um headset de telemarketing em um Intel Celeron em 2007 onde todos com uma internet banda larga podiam subir um arquivo .mp3 me encanta demais. É tipo ter visto o Arctic Monkeys tomar corpo pelo MySpace.
Jolin Tsai – Pleasure: A vida de confeiteira acabou pelo visto, mas é sempre um frescor ter Jolin Tsai de volta. Aos 44 anos, ela se entrega na grandiosidade que são os MVs taiwaneses sem medo, outro fator que a indústria sul-coreana simplesmente abandonou. Falta fogo no olhar das novinhas e dos produtores, mas andam dizendo por aí que aparentemente o NewJeans matou o kpop e que nunca mais vamos ter coisas do tipo rolando por lá. Que seja. Ansiosa pro álbum novo de Jolinão.
4EVE – Keep a Secret: Eu lembro que essas monas sempre serviram horrores no que tange a tentativas musicais da Tailândia, evocando as piores partes do Blackpink e, inacreditavelmente, soando piores. Mas! Em Keep a Secret elas me laçaram de vez. Óbvio que pelo instrumental clubber maravilhoso, não vou nem tentar negar já que sou uma morta de fome por músicas de boate, mas também pela ousadia. Sério, o verso “get you a membership into the mind of a girl, come visit” é contenda para as melhores canetadas de 2025. Em alguns momentos, ela soa como uma mission song do Ru Paul’s Drag Race e fico esperando pela Katya cercada por homens bombados cantando Yekaterina Petrovna Zamolodchikova but your dad just calls me Katya. No mais, tudo certo. Por enquanto é top 10 por aqui.

Evangelic Girl is a Gun é boa demais. É outra que eu tenho ouvido pra caralho, mas quase não comento sobre.
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No Na grupo da nação
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o no na é um gp novo que trouxe umas mscs bem interessantes, inclusive superstitious é uma delícia de ouvir, boa dms
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