Desbravando a música pop (e afins) japonesa, parte 2

Eu não esperava soltar mais um desses tão cedo. Ficar olhando os lançamentos do Japão de 1995 a 2010 e avaliar cada um deles com estrelas dá trabalho (eu criei um filtro no Rate Your Music que oculta todos os que eu já avaliei; é bem útil, mas o que me cansa mesmo é elaborar uma nota pros meus sentimentos). Inclusive, quando voltei com o blog de vez, pensei que esse seria um projeto que ficaria pegando poeira ao longo dos meses, mas tenho achado tudo do pop asiático atual tão capenga que me vi obrigada a retomar isso daqui. Nem da nova do Perfume eu gostei. Será que eu to ficando ranzinza? 

Bom, vamos lá. Se você leu o post anterior, já sabe que eu criei essa ideia durante meus dias de desemprego e que também sou fascinada pela música japonesa desse período específico que eu citei porque deve ter sido, provavelmente, a data de nascimento dos maiores álbuns daquele país e da música num geral. Daí eu vou ouvindo coisas durante semanas, que eu já escutei antes ou não, e guardando tudo numa lista até ter álbuns o suficiente pra comentar. Nessa segunda edição, o diferencial é a grande quantidade de anos 90, mas vou seguir recomendando 13 trabalhos de artistas diferentes e gêneros que podem ou não se prenderem ao pop. Incluí uma playlist também com uma faixa bem supimpa de cada um dos álbuns que eu já indiquei aqui (neste post e no anterior). 

Obs.: as músicas do Malice Mizer não estão nos streamings por uma questão de direitos autorais. Basicamente, os antigos membros não podem ter acesso às masters porque a empresa meio que passou a perna neles. O guitarrista Mana já comentou várias vezes como gostaria que outras pessoas ao redor do mundo tivessem fácil acesso a todos os trabalhos que o Malice Mizer já produziu, mas não depende só dele. 

01. Denki Groove – A (1998): Maluquice. É como se você e seu melhor amigo resolvessem produzir música eletrônica da forma mais rudimentar possível, mas o resultado é inesperadamente bom. Tipo o Prodigy, só que eles acabaram de ter um encontro com o Fatboy Slim e adquiriram a habilidade da comédia. Os vocais, que mais parecem gritos de guerra, são a cereja no topo. 

02. Ryusenkei – Tokyo Sniper (2006): Li por aí que esse cara, que na verdade se chama Cunimondo Takiguchi, foi acusado de plágio com esse álbum, mas depois entendi que as pessoas simplesmente não sabem o que é um sample. Se você quiser entender como o city pop era feito nos anos 2000, tá aí. 

03. Mass of the Fermenting Dregs – World is Yours (2009): Mais uma dessas bandas de shoegaze japonesas que eu gosto bastante de ouvir. Eu amo como a vocalista se perde no meio de tanta bagunça sonora, é o charme da coisa. Sério, Kevin Shields, veja o legado que você deixou pra esses asiáticos todos. 

04. Plastic Tree – Puppet Show (1998): Sabiam que o visual kei tem viralizado no Tiktok? E foi interessante até pra eu entender que, dentro desse movimento, existem diversos tipos de sonoridades. O Plastic Tree, por exemplo, jamais vai se parecer com o um BUCK-TICK da vida. Eles estão mais pra um Placebo cuja linha do tempo se desviou alguns graus e, de repente, o Brian Molko é um japonês nascido em Chiba. Eu acho isso maravilhoso. 

05. Towa Tei – Sound Museum (1998): Demorei um tempo pra descobrir que esse querido era o DJ do Deee-Lite. Também fiquei impressionada com os níveis de homossexualismo que uma faixa entre ele e a Kylie Minogue poderia ter. Se bem que com a Kylie envolvida, não tem como soar hétero. 

06. Tommy february6 – Tommy airline (2004): Apesar de gostar dos dois lados, eu sempre simpatizei mais com a faceta bêbada da Tomoko Kawase. Como pode essa mulher de óculos redondos e apaixonada pela Sanrio transmitir tanto carinho por meio do synthpop? É muito divertido ouvir jpop, vocês deveriam tentar de vez em quando. 

07. L’arc~en~Ciel – True (1996): Mais um. Quem disser que True não é um dos melhores trabalhos do vkei todo tá errado. Não tem outra opção; a tracklist, de ponta a ponta, escorre doçura. Deve ser horrível não explodir de alegria com Caress of Venus. Você não é um ser humano se não sentir nada ouvindo Lies and Truth. Era 1996 e a caneta do hyde era quente. Eles nunca mais foram bons assim de novo. 

08. ACO – Irony (2003): Não fazia ideia de quem era essa mona até pesquisar um pouco e entender que, em algum momento no começo dos anos 2000, ela decidiu parar de ser uma diva pop e soltar uma pérola do IDM. Se o Radiohead não tivesse tão desiludido com a fama, o Kid A soaria assim. 

09. Malice Mizer – Merveilles (1998): O Gackt pode ser o que for, mas ele sabe escrever uma canção de amor. E, nessas horas, fico feliz de conseguir separar o trabalho das pessoas porque, caso contrário, em que momento eu poderia me permitir amar tanto uma música como Le ciel? É o álbum de vkei a procurar quando não se sabe nada sobre. 

10. Sheena Ringo – Shouso Strip (2000): Sei que a galera curte bastante o álbum da xícara por conta da viagem de jazz que ele propõe, mas a personificação da Ringo, pra mim, tá aqui. Que trabalho sujo e barulhento, um caminho que ela poderia ter seguido tranquilamente se quisesse. Ela meio que definiu o rock japonês da década retrasada aqui, todo mundo queria soar tão maníaco quanto o Shouso Strip. 

11. Soul Scream – THE “DEEP” (1996): Um álbum que parece ter sido produzido especificamente dentro de fases aquáticas do Donkey Kong. Exato, dentro. Esse grupo de hip hop tava ali quando o DK subiu num peixe-espada e coletou 100 bananas pra ganhar uma vida extra. Não sei se a música consegue ser mais molhada que isso. 

12. Tavito Nanao – Ame ni utaeba…! Disc2 (1999): Faz dias, talvez semanas, que eu ando obcecada por esse moço, do qual eu não sei nada porque não existem artigos o suficiente na internet sobre ele. Tem de tudo aqui, de drum and bass a dark cabaret, de indietronica a shoegaze. Uma miscelânea de sons tão opostos que simplesmente fazem sentido. 

13. Fishmans – Long Season (1996): Long Season não é um álbum. Quer dizer, não da maneira convencional. É um enorme jam de 36 minutos que nos leva pra uma aventura em uma floresta japonesa numa tarde de verão como se fôssemos adolescentes de férias. Todas as partes evocam um calor no coração, uma nostalgia estranha, uma saudade de casa, dos nossos pais, da nossa infância. Da nossa inocência. Long Season é lindo. Ao vivo, então, é transcendental. 

Bluesky | Twitter

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