[SabadOFF] Dez covers que são tão bons ou até melhores que as versões originais

Fazendo parte dessa safra de novidades que eu quero trazer pro AYO GG esse ano, inauguro aqui o quadro SabadOFF, onde eu pretendo pegar sempre o último sábado do mês e comentar algumas coisas fora da esfera principal do blog, sejam músicas diferentes de pop asiático, filmes, animes, séries, porque na minha cabeça vocês são muito curiosos pra saber a vida que eu levo fora dessa loucura de ficar acompanhando calendário de lançamentos na Ásia. 

E pra estrear, resolvi juntar alguns covers de músicas, consagradas ou não, que, na minha opinião, são tão boas ou até melhores que as suas versões originais. Acho muito difícil acertar a mão num cover que não caia na armadilha de soar quase a mesma coisa ou que só fique muito ruim mesmo a ponto do artista original se revirar onde quer que ele esteja. Então eu dou muito valor pra covers que imprimem a personalidade de quem tá interpretando, ainda que, em alguns casos, a música de origem seja igualmente boa. 

10. Madonna – American Pie

Original: Don McLean

É engraçado como essa música fez um sucessinho morno na época que saiu, mas é a primeira imagem que eu tenho da Madonna quando eu cavuco o fundo da minha memória. Lembro de ter visto esse clipe na MTV um pouco depois da estreia, provavelmente porque a minha irmã, sete anos mais velha do que eu, estava assistindo o canal e eu prestei atenção em algum momento na TV enquanto vivia minha vidinha de criança. Gosto demais dessa versão de American Pie e como ela serve de transição dos anos 90 pros 2000. Tem uma aura misteriosa nela, ao mesmo tempo que é melancólica. O McLean mesmo diz que a música não tem significado concreto, então eu acabo assumindo que a Madonna quis representar a ironia do sonho americano com figuras comuns da sociedade. 

09. Marina Lima – Mesmo Que Seja Eu

Original: Erasmo Carlos

A Marina Lima era uma das musas do meu pai quando ele era adolescente (“ela era tão linda…”, palavras dele) e, bom… Não posso dizer que eu particularmente gosto do jeito que ela canta, mas acho todas as músicas tão agridoces. Elas carregam aquela sensação de nostalgia que só os anos 80 tem, daquilo de sentir falta de algo sem ter vivido. A versão crua de Mesmo Que Seja Eu deve ser uma das minhas músicas favoritas do rock brasileiro, com a voz rasgada da Marina Lima atravessando os saxofones conforme o instrumental cresce, tomando volume e incendiando tudo. Quando a gente compara isso daqui com a versão original, nem parecem a mesma coisa. 

08. Soft Cell – Tainted Love

Original: Gloria Jones

Só descobri que Tainted Love é um cover fazendo essa lista e tudo só melhorou a partir disso porque eu posso endossar o fato de que a versão do Marylin Manson é horrível. Ninguém que se atreva a cantar isso vai ter tanta energia de homossexual com o tesão de 50 Chloe Bailey quanto o Soft Cell. É uma coisa meio passivo-agressiva, de deixar ou não o desejo consumir a gente e eu me sinto extremamente sensível quando escuto Tainted Love, não importa o quão brega ela soe em alguns momentos (aliás, o álbum todo é assim, recomendo). Acho que é um daqueles números absolutos quando o assunto é synthpop oitentista: é fácil de gostar e todo mundo tem uma opinião sobre.

07. Elza Soares – Comportamento Geral

Original: Gonzaguinha

Elza Soares é minha cantora brasileira favorita. Todas as palavras não são o bastante pra descrever o que a existência dessa mulher me causa porque eu sinto que nunca vai ser o suficiente pra dizer o quanto ela foi e continua sendo importante no meu dia-a-dia. Elzinha é uma força sobrenatural. Ela conseguiu transformar Comportamento Geral num hino catártico de desesperança, cru, forte, angustiante, que deixa a pele em carne-viva. O deboche palpável na voz dela é de fazer chorar, de raiva, de tristeza, de nervoso, por todos aqueles que não enxergam a própria miséria. E quanto mais próxima do fim, mais eu sinto todo mundo descendo pelo mesmo esgoto. 

06. Muse – Feeling Good

Original: Anthony Newley

Existem algumas versões de Feeling Good por aí, inclusive a clássica da Nina Simone. Mas, por gostar absurdamente do Muse (e do álbum que esse cover faz parte, talvez um dia eu fale dele), eu acabei trazendo pra lista. O que me faz gostar tanto dessa versão de Feeling Good não é só o rock progressivo extremamente pesado que abraça os falsetes do Matt Bellamy de forma perfeita, mas também como todo o arranjo do cover conversa com o restante do álbum, numa era onde o Muse teve algumas pirações com o futurismo Y2K e letras surrealistas que abordavam conceitos malucos da ciência. Enfim, transformar um jazz nisso aí e fazer história é pra poucos.

05. Fall Out Boy – Beat It

Original: Michael Jackson

Cara, eu acompanhei a estreia desse cover. Eu tinha 13 ou 14 anos quando o Fall Out Boy teve a audácia de pegar uma música tão consolidada e icônica quanto Beat It e rearranjar de uma forma que representasse meio que uma pequena transição na carreira deles, um pouco mais punk, um pouco menos emo. E deu certo! Eu amo essa versão tanto quanto a original porque ela mantém a selvageria que o Michael Jackson impôs na época do lançamento, mas com elementos que transformam num número puro de rock, extremamente virtuoso com aquele solo de guitarra insano do John Mayer, tão insano quanto o Eddie Van Halen fez na primeira vez. Provavelmente é uma das homenagens mais lindas que o Michael já recebeu.

04. Chico Science e Nação Zumbi – Maracatu Atômico

Original: Jorge Mautner

Outra que eu não tinha ideia de que era um cover porque, pra mim, falar de Maracatu Atômico é falar de Chico Science e Nação Zumbi, e vice-versa. O mangue beat é uma das formas de música mais fodas que eu já ouvi, e o jeito que eles incorporaram toda a estética do afrofuturismo é simplesmente maravilhoso. Parei pra ler uns comentários de quem teve contato com essa música na época e é bem curioso o movimento revolucionário que Maracatu Atômico liderou na cabeça do jovem do final dos anos 90, tratando a música como algo divino, de outra dimensão. É bem isso mesmo. Maracatu Atômico é um exemplar único que nenhum outro lugar pode reproduzir com tamanha magnitude. 

03. The Killers – Shadowplay

Original: Joy Division

Por muito tempo, a versão do The Killers pra Shadowplay foi uma das minhas músicas favoritas da vida. É aquilo: adolescente que viu o clipe na MTV e moldou a personalidade em volta desse acontecimento pelos próximos meses. De quebra, ainda assisti Control (que é de onde esse cover vem) e fiquei obcecada pelo Joy Division. Não sei como, mas Shadowplay nas mãos do The Killers consegue ser mais violenta e crua do que nunca, ainda que o Brandon Flowers não tenha o mesmo timbre de voz sombrio do Ian Curtis. Mas a música bate muito forte, em lugares estranhos, e me faz ter um ataque epilético simulado tal qual o vocalista do Joy Division tinha durante os shows conforme a música avança de forma doente pros seus segundos finais.

02. Rammstein – Stripped

Original: Depeche Mode

Stripped veio até mim por acaso numa madrugada de, sei lá, 2015. Eu fiquei fascinada pela versão do Rammstein, tanto que eu nem me importo com o Depeche Mode cantando isso (parece um genérico dos anos 80, é até amador se a gente comparar). O cover convence tanto que se torna parte da própria discografia da banda, seja pela sinergia surpreendentemente boa com o NDH ou pela profundidade vocal do Till Lindermann que desperta essa aura sexy que parece adormecida na versão original. É como se eu estivesse ouvindo um conto erótico proibido, embalado por um sintetizador dissonante que ecoa no infinito só pra dar espaço pra guitarra constantemente agressiva, que é o que me conecta de volta à música. Só que o Rammstein, por muito pouco, não é meu cover favorito de todos os tempos. 

01. Deftones – The Chauffeur

Original: Duran Duran

Porque melhor do que transformar uma música mais ou menos num número sensualmente gótico, é ter uma música naturalmente sexy nas mãos e deixar ainda mais sexy. Basicamente é o que resume a versão do Deftones pra The Chauffeur pra mim. Já sou fissurada pela gravação do Duran Duran, que soa como um buraco negro caso fosse possível transformá-lo em música. The Chauffeur é dark e atraente, e arriscar um cover seria um tiro no pé pra quem não for capaz de capturar essa energia do jeito certo. Quer dizer, isso até o Deftones amassar a ideia original e modelar a música da maneira deles, o que resultou nisso aí: uma obra-prima do nu metal, presa numa espiral que grita “sexo” a todo mundo, mas sem nunca deixar as verdadeiras intenções escaparem. O Deftones cutuca e instiga quem ouve até eles próprios se perderem, o momento em que o cover e a música original se encontram de forma caótica. Como diria a Dilma: dobraram a meta. Não aceito menos que isso. 

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