After Like é o verdadeiro significado de bliss musical e, possivelmente, a melhor do IVE até o momento

É impressionante como o mundo dá voltas, né… Um dia, neste mesmo blog, eu disse que o IVE não tinha culhão pra segurar o conceito que elas trouxeram no debut e que o grupo era extremamente sem graça. No outro, eu boto o comeback delas em terceiro numa lista de dez, que é só um aperitivo pra outra lista com CEM. E quase nada mudou desde então. Minha relação com o IVE se restringe a adorar Love Dive e detestar Eleven em proporções praticamente iguais, o que não anula minha opinião de que elas são as rookies mais relevantes dessa nova geração. 

Por muito tempo, eu me perguntei se elas superariam o pop sensual 2000s-like que foi trazido em Love Dive. Fiquei receosa delas serem um grupo instável, ou que tenha sido um golpe de sorte certeiro pra chamar minha atenção, só pra destruir todas as esperanças que eu acumulei durante os últimos meses. O novo visual das fotos divulgadas apontava, de alguma forma, um girl crush, uma traição da qual eu jamais me recuperaria. Até sair o teaser, AQUELE TEASER BABILÔNICO dando um gostinho maravilhoso do que seria After Like nos próximos dias.

O que faltava era descobrir se a música toda seria tão boa quanto o teaser, e é o que a gente vai ver agora.

Pros novinhos (e pras invejosas que disseram que a Starship cometeu plágio só porque as faves delas conseguiram mais uma vez converter plutônio em som), After Like sampleia um dos números mais icônicos da era disco, que se tornou, anos depois seu lançamento, um hino queer, e ainda serviu e serve de base pra muitos outros artistas que querem servir um pop memorável. I Will Survive, da Gloria Gaynor, é empoderadora em várias esferas sociais, principalmente por ser uma mulher negra cantando a respeito de expulsar um homem da sua casa (e, consequentemente, da sua vida) e conquistar seu protagonismo novamente, gritando aos quatro ventos que ela vai sobreviver a isso num instrumental purpurinado. O fato de I Will Survive ter assumido outras facetas ao longo dos anos só reforça ainda mais essa atemporalidade. É e sempre vai ser um dos maiores atos da história da humanidade. 

A forma como o IVE toma a sonoridade da Gloria Gaynor em After Like não é menos poderosa. Pelo contrário, existe um protagonismo feminino ao tomar as rédeas sobre o gostar de alguém e como prosseguir com esse sentimento. “O que tem depois do gostar?”, é o grande questionamento que o IVE faz na música, uma pergunta que ecoa pelo instrumental dramático enquanto elas performam o que parece ser a coreografia das suas vidas. Uma coisa bem Drag Race Lip Sync To Your Life, referenciando todos os passos da cultura LGBTQ+, bastante vogue, hair flip e glitter. É como se elas entregassem seu coração pra pista de dança, afinal a disco music foi e é muito sobre devoção, daquilo de esquecer os problemas debaixo de um globo espelhado. O que vem depois do gostar é o amar, mas quem disse que o IVE se preocupa com isso agora?

After Like devora em tantos sentidos que o inimaginável aconteceu: botaram um rap em cima do pedaço sampleado de I Will Survive e, o que tinha tudo pra dar errado, deu muito certo. Ainda que pareça previsível, o contraste entre o instrumental que exala homossexualidade e o rap “agressivo” (com muitas aspas porque são adolescentes de voz aguda perfomando) ficou muito crocante e agradável de ouvir, além de servir uma continuidade orgânica na progressão da música. Rei e Gaeul simplesmente jantaram e ainda pediram sobremesa, apesar de não haver de fato um ponto que se destaque mais que os outros. After Like é muito completa, utiliza bem as referências que escolheu e entrega slayism em cada momento. 

Falando em referências, a Starship vem surpreendendo como uma empresa que não pertence às grandes e não possui uma trajetória tão longa no kpop e, ainda assim, mantém certa importância nas três gerações que participou. Sistar e WJSN são grupos que encontraram seu nicho e relevância ao longo do tempo, o primeiro no EDM e sendo um ícone do conceito sexy, e o segundo virando o jogo de garotas mágicas para rainhas do house. Dessa forma, parece que a Starship finalmente tem mais segurança em investir pesado nas meninas do IVE, disposta a arrancar todas as perucas que encontrar no caminho a ponto de desembolsar um puta dinheiro pra conseguir usar I Will Survive como sample. O que eu acho que pode ter acontecido (e não é muito difícil) é que eles reconheceram que são bem fortes com um pedaço significativo da galera que consome kpop: os gays. Com o IVE sendo um grupo novo, eles podem explorar essa demografia e apostar nelas como as novas mamães de milhares de homossexuais famintos por pop de qualidade.

É até revigorante escutar uma música como After Like depois de destruir meus ouvidos na última sexta. Me sinto contemplada em ver a Yujin homenagear Marilyn Monroe em Os Homens Preferem as Loiras e a Wonyoung expressar alguma emoção num look inspirado em Jessica Rabbit; na verdade, eu sou muito feliz por gostar de pop asiático hoje, por exercer minha feminilidade, por ser uma garotinha apaixonada. Parece que eu fui atravessada por um raio de luz extremamente gay e fiquei obcecada por isso. Sei lá, é uma sensação de puro bliss, como se eu tivesse sendo carregada até às nuvens e ficasse por lá enquanto deixo a música no repeat. As peças estão se encaixando novamente e o kpop, aos poucos, retorna ao kpop. Não porque a época de ouro esteja voltando ou algo assim (a gente sabe que não tem mais volta), mas por grupos como o IVE escreverem sua trajetória de forma catártica e inaugurarem uma nova era. Por mais momentos onde a gente se pergunte o que vem depois do gostar de kpop. 

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5 comentários

  1. “Por mais momentos onde a gente se pergunte o que vem depois do gostar de kpop.” O arrepio que senti lendo esse trecho aqui!!! Sou obcecada pela sua escrita!!! E no que diz respeito à música: nunca me senti tão orgulhosa em chamar um bando de pirralhas de um grupo de kpop de mamães 🥺 IVE encantam e SHITZY espantam

    Curtido por 1 pessoa

  2. O IVE tá realmente se tornando um dos maiores grupos do kpop, não só dessa geração mas do geral mesmo, elas estão carregando hit ápos hit que nem o T-ARA nos seus melhores dias. Ainda tem um longo caminho a percorrer (extremamente ansiosa pra elas lançando um full album) mas se a Starship continuar inovando comeback ápos comeback dessa forma, consigo ver um futuro brilhante pra elas

    Curtido por 2 pessoas

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