Esquenta AYO GG | As dez melhores de 2022

Enquanto eu elaborava esse post, percebi que faz exatamente um ano que eu publiquei o primeiro Esquenta AYO GG: dia quatro de julho de 2021. Não foi planejado; na verdade, não tinha nada marcado na minha agenda pra hoje e, aproveitando que não teve tanta coisa assim nesse mês, resolvi lançar uma versão não definitiva do que virá a ser o verdadeiro top 10 de 2022 lá no final do ano. Mas é até simbólico ver que as datas bateram porque, lendo o outro post, eu consigo enxergar o quanto eu e o blog mudamos juntos. A minha escrita, a forma como eu vejo cada lançamento, o meu próprio gosto musical dentro do pop asiático e até a minha vida pessoal, essas coisas se transformaram ao longo do tempo, da mesma forma que o mundo lá fora também, com a vacinação avançada da covid e tal. 

Falando em música, achei graça enquanto lia o Esquenta de 2021. Eu reclamei bastante sobre as coisas estarem devagar, como é chato escrever sobre lançamentos ruins (até dei o exemplo do comeback horrível que o Everglow tinha feito na época) e que tudo isso deixou minha escrita estranha. Comparando com hoje, acho que deixei meu senso crítico um pouco de lado em prol de aproveitar mais as coisas sem uma régua de qualidade, e que isso me ajudou a produzir alguns dos melhores textos que eu já escrevi. Eu leio minha crítica sobre Tomboy, do (G)I-DLE, e de Villain, do PIXY, e fico me perguntando como aquilo saiu da minha cabeça sempre tão ocupada com milhares de coisas ao mesmo tempo. Pra quem não sabe, eu tenho um emprego de verdade fora daqui, além de todas as outras preocupações que regem a minha vida, mas escrever e analisar sempre foram grandes paixões minhas e exercitar isso com o AYO GG tem ajudado muito a organizar meus pensamentos. 

Com uma pequena (e bota ênfase nesse “pequena”) trégua da covid, o mercado asiático ficou um pouco mais aquecido, com alguns dias se congestionando de lançamentos. Isso também ajudou a movimentar um pouco mais o blog que, na mesma época no ano passado, passava aperto pra se manter atualizado sem que eu inventasse uma pauta. O público daqui também cresceu, alguns posts estouraram a bolha e viralizaram, bati recordes pessoais e, até o momento, 2022 acumula 86% de visualizações de 2021 inteiro. Claro que sem a ajuda da Nath, o blog teria ficado parado por, no mínimo, uma semana enquanto eu tentava conciliar algumas coisas do home office. E com a criatividade um pouco mais aflorada, resolvi criar um depósito de pautas, ao qual eu posso recorrer sempre que eu tiver sem tempo ou sem assunto. No mais, essas coisas só foram possíveis por conta de quem lê isso aqui. Obrigada!

Como eu disse mais pra cima, eu abandonei um pouco do meu senso crítico e perfeccionismo e construí esse ranking de forma bem diferente de 2021. Caso você não saiba, ano passado eu usei uma espécie de chave de campeonato, onde cada música da minha playlist batalhava pelo seu espaço. Eu achava que assim parecia mais justo, mas no final, o que é justo é elencar os lançamentos que eu mais gostei e pronto. Então pra esse ano, eu simplesmente ouvi toda a minha playlist de novo e fui anotando o que eu mais tenho ouvido ao longo dos seis últimos meses, encaixando numa lista até formar o top 10 atual. E, depois de pronto, parei pra dar uma olhada e fiquei feliz com o resultado. Eu sei que não é fixo e que até o fim do ano as coisas mudam, mas acho que condiz muito com a minha pessoa hoje. Quem daqui será que sobrevive até dezembro?

10. Nayeon – Pop!

Depois de sete anos de grupo, o TWICE finalmente lançou sua primeira solista (e, provavelmente, a única). Por mais que os haters tentem negar, a Nayeon é uma das idols mais completas da JYPE, com vocal, dança, beleza e carisma no ponto pra carregar um debut tão espalhafatoso quanto Pop! E o marketing que fizeram em cima do trecho vazado, propositalmente ou não, foi bom o bastante pra fazer com que a música saísse de uma piada pronta pra um hit instantâneo, mesmo que os charts não reflitam exatamente isso. Pop! é, literalmente, pop. É pop feito justamente pra servir aos ouvidos e nada mais, pop bobo e exagerado, chiclete, engraçadinho. E é bem aí que a inteligência desse lançamento todo mora porque, quanto mais alguém fala mal, mais outra pessoa vai falar bem. É a máxima do “fale bem ou fale mal, mas fale de mim”, fazendo com que Pop! vire uma máquina brutal de engajamento e challenges no Tiktok com absolutamente a indústria toda do kpop. Genial.

09. BVNDIT – Venom

Em um ano onde a MNH resolveu trabalhar de verdade e tivemos a notícia de um comeback da Chungha, o BVNDIT, dado como morto há tempos, renasceu. Literalmente, já que esse é o conceito todo de Venom. A gente finge que era tudo um plano da empresa pra conseguir juntar dinheiro, enfiando a pobre da Seungeun no Girls Planet 999, com sua personalidade gostosíssima de acompanhar, batendo xereca e distribuindo álbuns do próprio grupo pras demais participantes… Mas deu certo, pelo menos aqui em casa. Num EDM violento, Venom se desenrola sem compromisso de parecer séria. Ninguém aguenta mais coreanas pagando de boazudas de propósito, o bom mesmo é curtir uma bagaceira dessas com meninas dando um grau em motos e empunhando espadas em efeitos estroboscópicos duvidosos num MV de qualidade máxima de 1080p. Se os pontos conquistados pelo BVNDIT por me tirar do óbvio e me fazer gostar de um número assim valessem de algo a não ser prazer pessoal, elas já seriam o grupo da nação. 

08. LE SSERAFIM – Fearless

O LE SSERAFIM tinha tudo pra dar errado. Desde o nome, qualquer escolha errada de conceito e, principalmente, pelo escândalo de bullying antes mesmo de debutar, o grupo que nasceu a partir da morte do GFRIEND poderia nem ter saído da gaveta da Source Music, mas Fearless é tão boa (ainda mais sendo performada como um quinteto nas últimas semanas) que nem parece que todo o projeto era um trem descarrilhado. Elas poderiam ter ido pro confortável, estrear com um hyperpop ou coisa assim, mas Fearless exala feminilidade e foi o que me pegou ao longo de todas as vezes que a música tocou nos meus fones. Nem precisa assistir o MV pra sentir, mesmo sendo um ótimo complemento com a coreografia toda marcada e sensual; o R&B linear e pulsante ganha corpo com os vocais, que conseguem ser elegantes sem sair muito do roteiro. Eu disse na minha review principal que Fearless não era essa coca-cola toda, mas na verdade é sim. Com gelo e duas gotinhas de limão. Se ninguém for ousado o bastante pra quebrar o paradigma do kpop atual, o LE SSERAFIM facilmente leva o título de melhor debut do ano.

07. PIXY – Villain

Foram um debut horrível e outros comebacks nem tão bons assim, mas o PIXY entrou na linha e abraçou a natureza estranha da lore que a empresa criou de vez. Num conceito inesperadamente cru e explícito, Villain se apoia numa teoria existencialista pra explicar sua própria origem fantasiosa. Afinal, fadas sem asas podem sobreviver? Existe algum tipo de estigma com essas criaturas? Nós nascemos maus ou o ambiente propicia isso? Já disse algumas vezes, mas nunca canso de me surpreender com as cartadas que esses grupos menores dão. Quer dizer, ninguém na Coreia do Sul deve se importar de verdade com o PIXY e o seu conto de fadas macabro, mas isso não impede Villain de ser extremamente bem amarrado com as próprias propostas. A música e a letra dão as mãos e caem de cabeça nesse thriller violento que o MV propõe, o que causa desconforto a quem ouve e vê. Mas se a gente sempre reclama dessa falta de novidade dentro do kpop, acho que dar uma chance pra esse comeback em especial não custa nada. 

06. Yezi – Acacia

No que talvez seja a melhor música da sua carreira como solista, a Yezi preparou um conto erótico cheio de mentiras, traição e a porra toda em Acacia. Eu sempre sou muito parcial quando esses lançamentos misturam o tradicional e folclórico com algo mais moderno (no caso, um trap pop), e geralmente eu acabo gostando. Foi assim com a Miliyah e com a Chanmina no ano passado. É um conflito de gerações que acabam rendendo umas coisas muito boas, e na voz da Yezi fica ainda melhor, já que ela é uma rapper extremamente agressiva, mas com vocais bem dramáticos. A Yezi não tem preocupação nenhuma em parecer elegante aqui. Aliás, uma das premissas da música é dizer que a elegância, a decência e o “amor limpo” morreram, e aí temos imagens dela desfilando com ar superior enquanto veste um conjunto de lingerie e cinta liga. A flor de acácia é sagrada na bíblia e, quando as pétalas brancas se pintam de vermelho, assim como a ira de quem foi traída, é justamente quando a faixa sai da melancolia dos versos e vira raiva pura no refrão. 

05. DAOKO – MAD

Ela passa um tempo sumida da música eletrônica, mas a música eletrônica sempre dá um jeito de achar a DAOKO, não importa onde ela esteja. Dessa vez, o encontro inesperadamente bom entre ela e o DJ Yohji Igarashi rendeu um excelente EP de quatro faixas malucas, passadas de frente e verso no ácido mais poderoso de uma rave interminável. MAD é música de academia pra drogado. É um instrumental tão pesado que faz o contraponto perfeito com a voz delicada da DAOKO como nenhuma outra música que ela tenha lançado fez, uma viagem hipnótica pra dentro das nossas entranhas, como se pudesse enxergar meu próprio interior enquanto eu sinto cada grave bater em mim. E a gente lembra do quanto a DAOKO é fissurada em azul, né? Pois nesse projeto com o Igarashi, temos um cabelo vermelho, unhas vermelhas, um seifuku vermelho, batom vermelho, quase como se ela tivesse se dividido em dois, uma DAOKO inversa, de outra realidade, um universo paralelo. Eu disse que MAD era loucura do começo ao fim, botando o velhinho simpático como uma alegoria para o autodescobrimento. Só não foi o melhor jpop do mês porque, no mesmo EP, ela conseguiu se superar.

04. LE SSERAFIM – The Great Mermaid

Nos últimos dias, eu tenho ouvido demais The Great Mermaid, então isso pode ter influenciado na posição. Mas desde o dia em que o EP do LE SSERAFIM saiu (um ótimo EP, aliás), eu defendi bastante essa música, por ser estruturalmente um eletropop “de raíz” com alguns detalhes dessa geração atual. Os vocais metálicos, ultraprocessados a ponto de fazerem parte do instrumental, consumidos pelo próprio sintetizador como se uma máquina de inteligência artificial aprendesse a cantar, são maravilhosos. Se o T-ARA lançasse um eletropop como elas faziam há dez anos hoje em dia, seria algo mais ou menos assim. O charme de The Great Mermaid é ser barulhenta demais, propositalmente mal produzida. E por ser barulhenta demais, acaba sendo agressiva demais, uma versão tenebrosa (no sentido de trevas mesmo, não de ruim) do conto da Pequena Sereia, talvez um final alternativo onde a Ariel não escolha abdicar da sua cauda pra viver um amor. Por isso a música não se chama The Little Mermaid, entendeu?

03. IVE – Love Dive

Falando em sereias, o magnetismo de Love Dive funciona como um canto mitológico. Ele te seduz, brinca com os seus ouvidos até se enjoar e virar o barco. Bizarro o IVE soltar uma dessas depois daquele debut pretensioso, fazendo com que eu crie na minha cabeça uma fanfic onde o grupo acabou de estrear e estreou bem demais. O teen crush nunca foi tão bem trabalhado até o momento nessa nova geração do kpop, e as referências claras a músicas poderosas de grandes grupos e cantoras dos anos 2000 tão aqui, quase uma versão mística de Meninas Malvadas, uma sociedade secreta de garotas dançando em modelinhos da Miu Miu enquanto planejam seu próximo ataque. O IVE é bonzão mesmo e Love Dive não só provou como consolidou o feito de vez, a faixa é de consumo rápido e com um apelo gigantesco, tanto visual quanto musical. Sem perceber, a gente é tomado pela música como uma grande onda inesperada que quebra nas nossas costas de surpresa, empurrando com violência e fazendo a gente dar risada com o susto. 

02. (G)I-DLE – Tomboy

Há quem não goste, há quem ache vergonha alheia… Já eu acho que Tomboy, por enquanto, é o kpop do ano por inúmeros motivos que eu já descrevi no post dedicado ao lançamento, mas que vale a pena resumir. A saída da Soojin foi traumatizante e o grupo, que vinha numa crescente de popularidade, tomou um baque. Era dito que o grupo demoraria a voltar, ou que talvez nem voltasse, mas eu mesma sempre acreditei que o (G)I-DLE, que sempre foi diferente desde a sua concepção, continuaria vivendo, e o melhor: viveria pra fazer jus à “memória” da Soojin. Foi assim que Tomboy nasceu, contrariando todas as expectativas do mercado coreano de idols e falando sobre os bastidores mesmo que de forma indireta e com muito uso da licença poética da Soyeon. Tomboy é subversiva, desde o conceito ao resultado final. Um rock de verdade, arrebatador, com palavrão censurado. Num universo onde grupos femininos tendem a não sobreviver depois de polêmicas, o (G)I-DLE se junta num coletivo pra dizer que elas não morreram, e nem nunca vão. 

01. DAOKO – spoopy

Eita, uma album track japonesa como a melhor do ano? Pois é, mas não é qualquer album track. Lembram quando eu disse que o EP da DAOKO tá excelente? Então, a qualidade é tanta que spoopy ultrapassou todas as barreiras e escalou de forma astronômica até a primeira posição disparada de músicas que eu curti até o momento. Eu sei lá que tipo de droga tem aqui e nem o que passou na cabeça do DJ quando produziu essa música, mas é tão viciante! A gente começa com um reggae, o que não é uma escolha tão óbvia assim pra se iniciar uma música que seja da DAOKO inserida num EP essencialmente eletrônico. Mas quando o refrão vira uma bagunça árabe com uma flautinha enlouquecida e a voz dela reverberando coisas que eu não faço a menor ideia do que são, a situação sobe níveis muito altos. spoopy, que é uma gíria pra algo “engraçado” e “assustador” ao mesmo tempo, faz jus ao nome e é pura arte trash, daquelas de balançar a cabeça pros lados feito um maluco pilhado de farinha sem entender muito bem o que tá acontecendo. Acho difícil essa música sair do meu top 10, a não ser que a própria DAOKO se sobressaia na sua loucura de novo. 

Músicas esperando uma segunda chance: Chiquita, do Rocket Punch; Artificial Girl, do Amefurasshi; Rainbow Halo, do Red Velvet; Undo, da Heize; BAD Mode, da Utada Hikaru; e Heart Burn, da Sunmi. 

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5 comentários

  1. Eu tenho que concordar q sua escrita tá maravilhosa e é muito satisfatório ler. Senti que o conteúdo dos dois últimos posts ultrapassavam um review de música 🙂

    Curtido por 1 pessoa

  2. Uma das listas que mais fez meu gosto dentro da blogosfera. Tirando os jpop q eu não escuto kkk (porém gosto daqueles post de polêmicas de lá q vc traz, inclusive sdds).

    E uma leve curiosidade que passou pela minha cabeça, o blog é só sobre girl groups, então partindo do pressuposto que tem que ter meninas pra vc falar sobre, você falaria do KARD?? Kkk
    Supondo q vc se quer dê atenção a esse grupo claro…

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