Navegando pelo bizarrísimo catálogo-Frankenstein do Hello! Project no Spotify

Não sei se vocês estão sabendo da novidade (batendo palmas como a homofóbica Paulinha de Mulheres Apaixonadas), mas alguém na Up-Front Works lembrou que vivemos na terceira década do terceiro milênio e pensou: uai, por que não estamos nos streamings? Talvez a ameaça de um fim iminente pro planeta tenha aquecido os corações do empresariado e um raio de luz esperançoso atingiu os escritórios dessa companhia tão querida, mas não importa: estão lá! Onde nunca achamos que um dia estariam! Ou mais ou menos isso. 

Pra quem não é muito familiarizado com o mercado fonográfico japonês, vou tentar explicar rapidinho. Por lá, as gravadoras têm muita dificuldade em fechar acordos com as plataformas de streaming e a grande maioria de receita que entra provém de vendas físicas, uma marca que eles estabeleceram ao longo de vários anos. Isso esbarra perpendicularmente em questões como políticas anti-pirataria e direitos autorais, além de que, no Japão, ir em lojas de CDs e ouvir lá dentro mesmo ainda é um fator cultural, assim como a Livraria Cultura e a FNAC faziam por aqui muitos anos atrás. Mirar no doméstico é o que tem dado certo pra eles até então (já que eles são o segundo maior mercado do mundo, atrás dos EUA) e não vai ser o resto do mundo que vai converter a galera. 

Não ajuda muito quando alguns artistas de gravadoras enormes que habilitaram seus respectivos catálogos no Spotify não tenham tido uma mudança demográfica em relação aos ouvintes. O ARASHI, por exemplo, está com as suas músicas por lá desde, pelo menos, 2020, mas a concentração de pessoas que escutam o grupo está justamente no Japão. Outros sabem que os streamings representam a precarização da música. Pagamentos baixos e proteção mínima contra a propriedade intelectual fazem com que alguns artistas manifestem repúdio público contra as plataformas. 

Enfim, algum twink de 20 aninhos arranjou um estágio na Up-Front e convenceu uma dúzia de engravatados de que botar as gatinhas do Hello! Project nos streamings seria muito icônico. E foi assim que, parcialmente, faixas e mais faixas de projetos obscuros da gravadora começaram a pipocar no Spotify. Pelo que eu percebi, não vamos ter um Shabondama pra se escutar de forma legal por enquanto porque o Morning Musume se recusa a morrer, mas enquanto eu navegava pela aberração que fizeram com as tags de todos esses grupos, eu encontrei (e reencontrei) muita coisa legal. Comentários toscamente escritos por pura preguiça, assim como a Up-Front teve na hora de liberar o catálogo. 

Com seio parcialmente a mostra, Maki Goto lamenta falta de amigos

01. Miki Fujimoto – Boogie Train ‘03: A Soyeon deles, fez fama sendo solista e foi enfiada num grupo com outras coitadas, a Miki estreou com essa besteirona. Depois ela confessou que namorava o comediante lá e foi chutada do Morning Musume. 

02. Taiyou to Ciscomoon – Gatamerika: Essas daqui eu não sei muito sobre a não ser do fato de terem disbandado um ano depois. Também não conheço quase nenhuma música, mas acho essa um bafo. Meio o que a Akina Nakamori lançaria na mesma época.

03. Berryz Koubou – Aa, Yo ga Akeru: Que delícia de música. Só o Japão pra colocar sete monas de babydoll num casarão pra cantar em cima de um EDM safadíssimo. Minha preferida e, provavelmente, a melhor do catálogo delas. Pro azar do Dougie, cha cha SING continua enclausurada nos confins da Terra. 

04. Buono! – JUICY HE@RT: To irritada em como cagaram em cima das tags aqui, mas basicamente o Buono! foi uma unit entre as mais fodonas do Berryz Koubou e do C-ute. Elas performavam esses números mais rockish que tinham cara de abertura de anime. 

05. Airi Suzuki – Distance: Falando em uma delas, depois que resolveram dissolver o Berryz Koubou e o Buono! (e o C-ute), a Airi Suzuki foi trilhar um caminho solo e lançou esse absolute jam que mescla perfeitamente a identidade dos dois grupos que fez parte. 

06. C-ute – Bye Bye Bye!: E fechando essa sequência, a melhor do C-ute é essa daí, que parece ter saído de uma gaveta do Nakata. Elas sempre foram a força pirralhas-da-piração-eletrônica do Hello! Project, muitas vezes piradas demais pro meu gosto, mas quando acertavam a mão… Um sabor. 

07. W – Miss Love Tantei: O grande atrativo dessas duas era a semelhança que elas possuíam e isso deu muito certo dentro do Morning Musume, tão certo que virou uma unit. Só que aí uma delas começou a fumar sem ter idade pra isso e a dupla acabou. 

08. Country Musume – Senpai -Love Again-: Todos amamos uma história de pirralhas virando mocinhas por conta de um amor. Não poderia ser diferente com o quinteto com a energia de Hokkaido (seja lá o que isso significa). 

09. Aya Matsuura – Ne-e?: A primeira grande solista e it girl do Hello! Project, foi ela que espalhou a palavra da gravadora pra fora do Japão. Não deu muito certo como a gente pode ver, mas o que mais me atrai nela é esse constante flerte com o que tava rolando na cena alternativa da época. Essa daqui, por exemplo, é shibuya-kei purinha. 

10. Sayumi Michishige – Loneliness Tokyo: Pesquisando pra esse post, fiquei sabendo que a diva foi diagnosticada com TOC e, logo depois, anunciou a aposentadoria. Desejo tudo de bom pra ela. Queria entender pra onde ela iria depois de soltar essa daqui. 

11. Ongaku Gatas – Yattaroze!: O Hello! Project tinha um time de futsal chamado Gatas Brilhantes e aí resolveram transformar isso num grupo porque tudo é uma desculpa pra se produzir um grupo no Japão. Não sei muito bem o que pensar sobre isso. 

12. GAM – Melodies: O momento t.A.T.u do Hello! Project, apresentando duas das preferidas do Tsunku. Sério, esse vídeo é extremamente sáfico. Nos comentários do YouTube, muitas pessoas relatam que esse clipe foi o responsável pelo despertar bi delas. Cara, elas se beijam no final… Será que eu to atrapalhando…

13. v-u-den – Kurenai no Kisetsu: Sei lá, isso parece ser o tipo de música que tocaria num boteco lá em Diadema num domingo de tarde, mas bem distante, com meia dúzia de senhores de camisa meio aberta bebendo na rua. Eu gosto. 

14. Gomattou – Shall We Love: Antes do GAM, o Tsunku realizou o sonho da vida dele reunindo as três princesas da agência numa unit que, sinceramente, poderia ter rendido muito mais que um single. Mas a Maki saiu em busca de ser uma mulher de resPEITO. 

15. Maki Goto – Glass no Pumps: Não é a melhor dela, mas é a melhor que temos disponível no Spotify, já que a avex se recusa a liberar o Voice pro mundo. Mas não é doido esse período que vivemos? A discografia da Maki na Up-Front saiu ANTES da chacrete de Okinawa recuperar as masters. Maki Goto outdone Namie Amuro mesmo. 

Bluesky | Twitter

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