Kep1er surpreende no batidão Yum e lança sua melhor música depois de três anos de tentativas fracassadas

Nunca escondi o fato de que o Kep1er é um grupo sem propósito. Desde a concepção no megalomaníaco reality show que caiu na própria espiral de fracasso ao dar poder pro povo, essas (então) nove garotas não tinham sinergia nenhuma entre si, e nem o carisma necessário que as grandes empresas da indústria levam anos pra construir nos seus idols. Foi com o Girls Planet 999 que esse formato provou ter morrido há muito tempo, sinais esses que a própria Coreia do Sul e outros países do nicho parecem ignorar quando, cada vez mais, outros programas do tipo foram surgindo mesmo com o Kep1er afundando. Tudo bem. Eu sou a amargurada da história toda.

O que me surpreendeu foi a mudança no contrato. O Kep1er se tornaria um grupo fixo, sob cláusulas mais, ahm, sólidas que as retiram do status de “grupo de survival” para apenas “grupo”. Nesse processo, duas caíram fora, pois estavam comprometidas a debutar no experimento de inteligência artificial e acusações de abuso chamado MADEIN (sério, coitadas). E com isso, o próprio Kep1er ganhou características mais fundamentadas no kpop, principalmente de gerações anteriores, com uma chinesa e uma japonesa servindo de token global. A única coisa que não mudou foi a qualidade das músicas mesmo. 

Bom, até agora. 

Eu não tinha prestado atenção no Kep1er com essa nova formação de sete meninas. Muito disso vem do fato delas não terem lançado nada realmente bom nesse meio tempo, então não teria motivo plausível pra eu concentrar todo meu foco pra entender como elas interagiam entre si como septeto, mas aqui eu me permiti um pouco mais de análise. Esse é um grupo (dos muitos) que eu não tenho apreço nenhum pelas integrantes. Quer dizer, até tenho por uma ou outra que, potencialmente, poderiam entregar muito mais do que os envolvidos nessa joça permitem, mas não sei dizer se duas garotas a menos na minha tela fizeram uma diferença absurda. Na maior parte do tempo, acompanhar o Kep1er foi um borrão na minha mente.

Mesmo assim, tendo a comparar Yum com o que elas apresentaram naquele debut desastroso, a única coisa que realmente me marcou na história do grupo. Quando me dei conta, fiquei fascinada. O instrumental pesado, a estrutura dos versos, a proposta delas serem bruxas, ou seres fantásticos, qualquer coisa do tipo. As ideias de WA DA DA estão todas aqui, mas muito melhor executadas. Lembro de ter uma galera preparando uma espécie de arco de redenção do debut do Kep1er, mas não tem como. A música é amadora em todos os sentidos, como se um grupo de crianças que assiste Tiktok quase todas as horas do dia tentasse se passar por adultas repetindo frases de efeito e trejeitos que viram no aplicativo de forma incessante. Em Yum, essas crianças cresceram e arranjaram algo pra fazer da vida. 

Ainda assim, parece que as diferentes seções da música não se conectam direito. Não existe um elemento forte de ligação que faça com que Yum aterrisse de forma perfeita ao seu ponto inicial, com o Kep1er lançando os it’s sweet and yum-um-um como um feitiço. Meio que a faixa para um pouco pra respirar antes de retomar toda a energia que ela tem, como se ela estivesse esperando o próprio grupo tomar fôlego pras próximas partes. O refrão é, inegavelmente, o que tem de melhor aqui. É dramático, quase amaldiçoado. Elas quase me convenceram de que podem controlar a humanidade dentro desse genjustu que bota mãe e filha pra requebrar gostoso uma pra outra enquanto o mundo vira geleca. Tem algo de KARA aqui. Essa sensação angustiante de que, em algum momento, nós perdemos controle de nós mesmos e que o planeta Terra vai explodir. Algo que eu sinto quando escuto músicas como Pandora. A falta de naturalidade do grupo em lidar com esses conceitos (e com o fato de serem um grupo) quebra um pouco da magia, mas o Kep1er soltar um dos melhores batidões do ano realmente não estava nas minhas apostas pra 2025.

Bluesky | Twitter

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