Dez álbuns muito fodas que a JYPE poderia copiar se não tivesse virado uma empresa “eco-capitalista sustentável”

O bafafá da semana (fora os orbits destruírem o sonho internacional da Kim Lip em Chicago) deve ter sido essa notícia abaixo:

Caso você não saiba inglês, a JYPE declarou em um documento (disponível em coreano para consulta online, mas que uma fanpage brasileira traduziu no Twitter) que planeja parar de produzir álbuns físicos, com o objetivo de reduzir os impactos ambientais através da diminuição no uso de matéria-prima e o “desperdício” de álbuns que rola lá na Coreia do Sul, lixo que fica acumulado nas esquinas de Seul. O plano é que os lançamentos sejam feitos em forma de conteúdo digital, acessado através de um QR Code nos photocards (que serão feitos de material reciclado), semelhante ao que a HYBE anda fazendo pelo Weverse. 

Eu tenho uma opinião bem controversa a respeito do assunto porque, não sei se vocês sabem, mas eu sou marxista-leninista. E, bom, esse documento todo da JYPE me soa muito como capitalismo verde, onde a concentração de lucro continua existindo nas mãos de poucas pessoas, mas agora com uma roupagem sustentável. Ou seja, a culpa continua sendo sua, que só quer colecionar coisas do seu grupo favorito, ou até mesmo das fanbases enormes que compram 10 mil álbuns de uma vez, e não da indústria que incentivou isso conforme o kpop se popularizava cada vez mais e avançava pra fora da Ásia. A JYPE é uma empresa capitalista como qualquer outra e um plano desses existe só e somente porque no capitalismo é possível realizar críticas que não ameacem suas estruturas básicas. E também não é como se essa não fosse exatamente a mesma empresa que organizou uma pré-venda de mais de um semestre pra um grupo que ainda nem havia sido revelado…

Enfim, eu poderia elaborar mais, só que esse não é um blog exatamente sério, então eu resolvi expor o que eu acho disso tudo com uma lista bem marota de álbuns físicos criativos o bastante pra JYPE anotar no bloquinho de notas, mas pra manter a pose de ecologista, a ideia só vai ficar no sonho. E eu, além de marxista-leninista, sou estudante de design, e não tem nada mais legal que acompanhar os lançamentos dos físicos, o verdadeiro diferencial interessante no meio dessa palhaçada toda que é o kpop. 

10. miss A – Bad But Good (2010)

Começando com um álbum produzido pela própria JYPE para o novo girlgroup da época, o miss A (que morreu tragicamente), com uma embalagem triangular extremamente polêmica e divisora de opiniões até hoje. Eu gosto da ousadia do design do Bad But Good, até porque o próprio miss A surgiu como garotas classudas e destemidas, e o conceito todo em marcar uma imagem literal do A do nome do grupo usando a figura do triângulo também é ótimo. O photobook é uma belezinha, “acoplado” a própria case do álbum, acompanhando o corte triangular dele e com as fotos enquadradas de um jeito que faz com que o miss A pareça matador. Mas, por ser fino, acho que deve ser pouco prático de colocar na estante. 

09. Wonder Girls – Wonder Party (2012)

Ainda na JYPE, o Wonder Girls lançou o Wonder Party, EP cuja tracklist não é tão boa assim a não ser pela memorável (porém atrasadíssima fedendo a 2012 por causa do flashmob) Like This. Porém, eu acho incrível a forma literal como eles levaram o conceito, transformando a embalagem do Wonder Party num convite de festa, quase um flyer de uma rave exclusiva repleta de neon e bala. Óbvio que dava pra elaborar uma coisa mais legal de menina baladeira, e do jeito que ele foi concebido parece bem frágil (o “photobook” é todo solto), mas o Wonder Girls ainda era o momento nessa época e serviram bem antes do hiato (e do retorno hecatômbico).

08. Red Velvet – Perfect Velvet (2017)

É de consenso geral o fato de que dava pra executar esse álbum de qualquer outra forma que não fosse uma jewel case, principalmente vindo da SM. A embalagem toda do Perfect Velvet, segundo full do Red Velvet, é uma piada de mau gosto e com um sleeve extremamente difícil de tirar, então ele nem estaria nessa lista. Só que, como eu não tenho uma cópia dele, eu recorri aos unboxings (o da Bruna é um deles) e fizeram da jewel case uma espécie de caixa de pizza, com textura de papelão e até efeito de gordura do óleo atrás de onde fica o CD, além do lyric book imitar um cardápio. Fizeram de um produto porco com uma ideia preguiçosa algo bem sinestésico e não tem como ignorar isso. 

07. NewJeans – NewJeans Bag Version (2022)

Como designer, as intenções da Min Heejin com o NewJeans não se limitaram a fotos e MVs. É claro que ela revolucionaria de alguma forma ao planejar os álbuns físicos do grupo, que totalizam OITO versões diferentes, cinco delas individuais, uma em grupo, uma do Weverse e, claro, a bolsinha que virou meme na minha bolha porque todo mundo queria voltar pras aulas com uma bolsinha das NewJeans. Algo bem anos 2000 mesmo, quando as divas brasileiras lançavam produtos licenciados. A versão Bag é um negócio único no kpop até hoje, e a justificativa da Heejin pra ela foi “sempre querer uma bolsa pra carregar meu discman quando era jovem”. Eu assisti o unboxing e esperava mais da bolsinha, mas é um charme e já virou ícone pop da quarta geração.

06. EXID – Eclipse (2017)

O terceiro EP do EXID é um exemplo de como um design simples consegue impressionar. Eclipse tem uma embalagem etérea, super elegante, cujo sleeve, por conta do corte diferente, revela aos poucos uma lua coberta pelo, err, eclipse. Tirar esse álbum da caixa deve ser uma experiência linda todas as vezes e todo o conceito dele combina muito com a tracklist e, principalmente, o single Night Rather Than Day, que foi o primeiro a se afastar um pouco dos moldes que o viral de Up & Down proporcionou. O que fizeram com essa era toda do EXID foi criminoso e acho que só olhando um vídeo sobre o álbum no Youtube pra fazer todo mundo mudar de opinião. 

05. Heize – Wind Limited Edition (2018)

Essas solistas mais alternativas são uma coisa que eu não costumo dar muita atenção, e com a Heize nessa época não era diferente, então eu nem sabia que a edição limitada de Wind era tão legal assim. Pesquisando pra esse post, eu encontrei alguém dizendo que o álbum vinha com blocos de jenga (porque o single se chama Jenga) e eu pensei como isso seria possível. É fantástico, os bloquinhos vem todos enfileirados num compartimento que fica no meio do álbum (que inclusive vem numa caixa linda, parece um porta-retrato) e cada um tem um desenho ou algo escrito por ela mesma. Pelo que eu vi, os álbuns físicos da Heize conseguem transmitir exatamente a vibe alternativa e caseira dela e, bom, quando o design tem sentimento, me conquista fácil. Eu até gosto de Jenga hoje em dia.

04. Sunmi – ⅙ (2021)

Pensa num álbum bonito, luxuoso e, principalmente, grande. O é tudo que eu queria que alguns álbuns ruins fossem: de capa dura, parecendo um livro. Eu tenho ele na minha estante e nunca me arrependi de ter comprado, apesar das músicas terem envelhecido rápido comigo, porque ele fica maravilhoso exposto de qualquer forma que você queira. O apelo principal dele tá na capa, que imita um poster de um filme trash antigo, dos anos 80, mas dentro tem um postcard duplo que parece um livro, talvez inspirado no Burn Book das Mean Girls. Tudo que deu errado no MV de You Can’t Sit With Us (inclusive o rap da Sunmi) fica incrível no álbum físico, é uma chuva de ideias que não fazem o menor sentido e criam o produto perfeito, algo que a própria JYPE poderia ter feito com o Full Moon em 2014.

03. Oh My Girl – Nonstop (2020)

Eu posso até não gostar tanto assim dessa nova fase do Oh My Girl, mas o design do primeiro álbum pós-Queendom é tão lindo que nem tem como não falar sobre. Nonstop imita um boardgame (majoritariamente Monopoly) e todos os itens dele são voltados pra elementos que compõem jogos desse tipo, como um standee que serve de peão, photocards que lembram as cartas de sorte ou revés (aqui chamado de chance or quest) e um poster que é literalmente um tabuleiro de papel. Até a própria embalagem tem as dimensões de um boardgame em escala menor. A curadoria feita na produção desse álbum é simplesmente foda e eu só acrescentaria mais algumas coisas, tipo um dado ou um photobook em formato de manual de instruções. 

02. Soyeon – Windy (2021)

Falando em curadoria, o que a Soyeon fez com o primeiro EP dela foi loucura, quase impossível de dar certo, ainda mais na Cube. Mas a ideia foi pra frente e vimos o nascimento de um dos álbuns físicos mais legais dos últimos tempos, e não só isso como todo o conceito de hamburgueria que foi trabalhado em Windy. A começar pela embalagem, que é uma caixa de delivery do tipo faça-você-mesmo (porque ela vem desmontada) e, dentro dela, o conceito pira em todos os elementos do álbum. Temos um lyric book enorme que mostra as faixas como se fossem o menu do restaurante (o single é o “signature burger”), um cartão fidelidade, um porta-copo e um CD com estampa de pão embalado num “guardanapo”. Sério, só não fica melhor porque…

01. f(x) – Pink Tape (2013)

…Sete anos antes, a Min Heejin trabalhava na SM e deu início aos álbuns de kpop artisticamente bonitos. E o f(x), que já era um grupo diferente por natureza, foi a cobaia perfeita para as experiências dela, o que já havia acontecido no ano anterior com o EP de Electric Shock. Mas foi com o Pink Tape que a fama da Heejin de diretora criativa da indústria coreana foi estabelecida, e ela mergulhou de cabeça ao transformar o f(x) num grupo idol com cara de indie. O Pink Tape é uma referência de trabalho quando falamos de design. As pessoas da fanbase vão mencionar ele quando a gente pergunta sobre álbuns criativos do kpop. Algumas, tipo eu, ainda choram todas as noites quando lembram que a SM nunca mais vai produzir essa obra de arte e só resta esperar alguém vender o seu usado. Confiaram na Heejin e, com o álbum em formato de VHS, ela entregou estética e conceito absolutos, gravando o seu nome e o do grupo na história. 

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5 comentários

  1. Não, mas sério, quem foi o idiota que socou a ideia na JYP de que não vender álbum físico seria “eco-friendly”????? Sinceramente gente, seria melhor só reduzir a quantidade de versões que eles produzem ou fazer algo mais inovativo mas eles preferem fingir conciência, ah me poupe JYP (e sim eu to brava com isso desde que essa notícia saiu)

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  2. Eu tenho dois álbuns, o The Boys do SNSD (eu amo, é muito lindo, mas há um GRANDE defeito: ele tipo enferruja com o tempo) e o Don’t Mess Up My Tempo do EXO (não é bem o meu favorito, isso porque é fruto de uma troca que fiz pela internet). Eu queria muito ter novos álbuns futuramente, mas agora estou com medo de que as outras empresas copiem essa ideia da JYP e pararem de fabricar os álbuns antes de eu poder comprar, tomara que a ideia deles dê errado pra ninguém querer copiar kkkkk

    Acho que alguns dos álbuns mais bonitos da SM foram os de 2013, tivemos essa obra prima que é o Pink Tape, aquele caderninho do EXO, o XOXO repackage (convenhamos que as fotos não são lááá muito bonitas, mas o desing é muito legal) e o I Got A Boy do SNSD, eu acho muito bonito o desing de cada versão, aqueles desenhos são tão bonitinhos…

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    • eu tenho as três versões do dmumt e eu gosto bastante do visual (tanto que eu usei de base pra um trabalho da faculdade) mas acho que um livro horizontal não foi a melhor forma de conceber esse álbum não

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