Perfume praticamente reinventa o pop com Spinning World (e eu não aceito contra-argumentos)

Sempre que o Perfume anuncia algo, seja álbum novo, música, show, até as propagandas da loja de dona de casa da Kashiyuka, é um evento na minha vida. Porque eu amo demais essas três tiazonas malucas que, mesmo com vinte anos de carreira e passando dos 30, continuam entregando o suprassumo performático e pops hecatômbicos capazes de mudar a rotação do planeta Terra. 

É o caso de Spinning World (e não, não pensei em falar sobre a rotação da Terra pra introduzir a música, eu não tenho capacidade mental pra isso), produção fresquinha do nosso Clodovil do pop japonês Yasutaka Nakata, junto com um novo álbum recheado de hits tão arrebatadores quanto. Vocês não costumam me ver falando bem de um lançamento logo nos primeiros parágrafos do post, mas eu já tinha escutado Spinning World antes e fui levada pra outra dimensão, só tava esperando o álbum todo sair pra comentar.

E aí? Vamos ver quem é que faz o mundão girar?

Eu vi no Twitter (mais especificamente foi o Dougie quem postou) que, quando o Nakata cisma com um gênero de música, todas as produções dele vão ter a mesma sonoridade até cansar. Isso é desde sempre, até com o próprio Capsule, e é meio controverso porque existe um risco muito grande de tudo parecer genérico demais, ou que pelo menos faça a gente pensar “lá vem o Nakata de novo” com dez segundos de música reproduzida. Ao mesmo tempo, essa fixação que ele tem durante certo período de tempo acabou rendendo excelentes faixas pro Perfume; quando o Capsule lançou o excelente World of Fantasy, um tempo depois vinha o trio com o também excelente Level3. Já o mediano Wave Runner foi predecessor do terrível Cosmic Explorer. 

Acho que tá tudo bem do Nakata trabalhar dessa forma, mesmo sendo arriscado não só com a credibilidade que ele passa como DJ e produtor, mas também com os atos importantes que são maquinados por ele. O Perfume perdeu relevância entre 2015 e 2020 por conta dessa obsessão com o country EDM e, em seguida, com o future bass. Mas quais pessoas envolvidas com música que não passam por uma época difícil? O que importa no final é saber se reinventar, ainda que “reinventar” seja uma palavra um pouco exagerada pra Spinning World, mas… Não tem como evitar, sabe? Vocês estão lendo uma review de uma pessoa que é muito fã de Perfume. 

Dito isso, Spinning World é inacreditável. Inacreditavelmente sóbria e viciante. Ela mexe com sentimentos escondidos dentro de mim a cada pulsar por ter uma carga nostálgica muito grande, mas é difícil descobrir de onde ela vem. Talvez por soar vaporwave logo nos primeiros segundos, daquilo de ser música de shopping abandonado mesmo e que causa uma melancolia sem explicação. De repente, somos jogados a um synthpop elegante e maduro, até os registros vocais das três não são tão agudos como costumam ser. É puro bliss, de sentir o corpo levitar toda vez que a música desacelera. Nunca antes o Perfume teve sua idade e memória tão respeitadas. 

E o MV é impecável. Trouxe de volta aquela estranheza de se assistir a um MV do Perfume, mas sem toda a parafernalha que faz dele um novo filme de ficção científica, o que é doido já que elas são conhecidas principalmente por isso. Comparando com a tecnologia de outros vídeos, Spinning World é bem simples, algo que tem ficado cada vez mais frequente desde que vimos Polygon Wave. Mas o elemento principal que faz com que esse se destaque dos outros é a interpretação maravilhosa, algo parecido ao que aconteceu em Spring of Life. É desconfortável observar as expressões por muito tempo e o plot se torna macabro para além de três bonecas de corda tomando chá. Quando a corda de uma delas para de girar e elas se dão conta de novo de que não são seres humanos, os olhares vazios enquanto geram energia através da chave… Um primor. 

Para além de semelhanças com lançamentos assinados por ele, como Hikari no Disco e o último álbum da Kyary, existem outras músicas dentro do catálogo do trio com as quais é possível fazer um paralelo e corroboram com o fato de que o Nakata tem inspiração cíclica (e, mais ainda, que provavelmente ele estava sofrendo de burnout). Spinning World lembra muito o ótimo trabalho que o produtor fez no álbum Triangle, mais precisamente em faixas como edge, Night Flight e I still love U. Mesmo sendo de 2009, já era comum apresentar o Perfume como um grupo eletrônico sério, mas agora parece tão mais saboroso nas mãos delas. Antes de ser um produtor genérico, acho o Nakata esperto o bastante pra admitir indiretamente que errou e se permitir repensar toda a trajetória dele durante a pandemia. É o que eu chamo de verdadeiro reset cultural. 

Escute também: Mawaru Kagami

Não sei se vocês já viram, mas o primeiro post do Rinha que eu fiz foi sobre a discografia do Perfume. Agora que temos um novo álbum nas nossas vidas, acho que o Plasma pegaria uma quarta posição, ou seja: Nakata entregou trabalho bem feito pela primeira vez em seis anos. Apesar da tracklist ser majoritariamente formada por coisas que já foram lançadas antes, eu gosto de como elas foram dispostas aqui, fazendo com que o álbum tenha uma boa progressão. Além disso, não temos nenhum remix ofensivo como nos álbuns anteriores. Só vitórias, amigas. Das “inéditas”, eu fico com Mawaru Kagami (coloquei entre aspas porque uma versão mais curta e um pouco diferente tinha sido lançada como b-side de Flow em março). O começo dessa música me lembrou Stranger Things ou algo de terror oitentista nesse sentido, misturado com a trilha sonora de Stardew Valley. Eu sei que a descrição é maluca, mas ouçam, é absurdo de tão bom.

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Um comentário

  1. Enfim, mais tiazonas do j-pop vencendo no fim do dia. Pelo visto, o que foi iniciado em 2020 continua nesse ano: veteranas do pop asiático sambando no povo novo (Coreia com Lee Hyori e BoAzuda e Japão com Bed In e Perfume). E amei as tranças que deram pra A-Chan, além dos vários salários minímos no megahair de Kashiyukão. Ainda não ouvi o álbum, mas se levarmos em consideração essa boa fase do Nakata tirando a Toshiko do porão e dando demos boas pra Kyaruzão, ele deve estar ótimo

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