Fazia tempo que eu não aparecia com um post desses aqui, né? Desde o último post do Comercial, eu substituí o próximo candidato para uma review tantas vezes até chegar ao ponto de não querer resenhar mais nada. Nenhum álbum parecia bom o suficiente pra tomar o meu tempo e ser investigado, e olha que eu cogitei bastante coisa pra trazer pro quadro, viu?
Depois de empacar muito na review do álbum do GWSN a ponto de desistir de tentar, o TWICE fez seu tão aguardado comeback coreano e, de quebra, sendo o primeiro grupo do primeiro escalão a se aventurar pelo verão. Como muitas blogueirinhas apontaram nas suas reviews, o TWICE tem entregado álbuns cada vez mais consistentes e que realmente dão vontade de ouvir. Isso é um reflexo do amadurecimento do grupo conforme os anos foram passando, o que é natural de acontecer com vários outros atos do kpop. Por sorte, esse crescimento não foi tão tardio assim e podemos aproveitar essa era mais adulta com o grupo ainda no seu auge.
Taste of Love não foi feito pra ser conceitual ou traçar uma narrativa igual a outros álbuns que já resenhei aqui no blog. O que me fez escolhê-lo pra protagonizar essa edição do quadro, na verdade, é uma sucessiva onda de fatores, sendo que o primeiro foi uma tentativa de me cobrar menos nas reviews que eu entrego. Isso já se liga ao segundo motivo, que é transmitir as sensações que eu tive ao ouvir cada faixa. Afinal, estamos falando de um álbum produzido no verão coreano diretamente das nossas casas no Brasil, em meio a uma epidemia sócio-político-econômica. O que a gente menos pode cobrar é seriedade.
Quer saber o que eu achei desse novo lançamento do TWICE? Então vem comigo nessa review faixa-a-faixa do Taste of Love!
1. Alcohol-Free
78/100
Com certeza, Alcohol-Free foi um comeback que dividiu as opiniões por aqui, mas mostra que o TWICE cumpriu seu propósito de ser um grupo que polariza as pessoas. Eu fico do lado da aclamação; Alcohol-Free traz uma ousadia muito grande em toda sua composição, misturando ritmos latinoamericanos com excelência, fugindo do óbvio e explorando outras sonoridades como a bossa nova e a salsa, e que não vejo funcionando tão bem com qualquer outro grupo da atualidade. Acho que a intenção do JYP aqui foi aproximar o grupo com esse público em específico. Se deu certo com todo mundo, não sei, mas serviu pra botar o nome do TWICE na boca do povo.
Como eu já disse no post solo, nunca fui com a cara das músicas de verão do grupo. Aliás, essa forçação de barra da empresa em colocar as meninas como as novas summer queens do kpop nunca tiveram um bom resultado comigo, mas eu vejo uma tentativa muito mais natural em Alcohol-Free. Sabe quando você conhece alguém de outro país e tenta se enturmar? É essa sensação que a música me passa; você não conhece muito da cultura daquela pessoa, mas se esforça ao máximo pra fazer com que ela se sinta confortável. É tanto isso que o TWICE conseguiu imprimir uma característica mais praiana sem precisar apelar pro reggaeton saturado que tomou conta do kpop em 2018, ou pro tropical house vencido de 2016. Pode até não ser o melhor single da carreira, mas é a tentativa mais inesperadamente boa delas de trazer o verão coreano pro ocidente.
2. First Time
65/100
Ouvindo o Taste of Love pela primeira vez, fiquei com medo da queda que o álbum levou colocando First Time como a segunda faixa. Não é uma música ruim, mas, com certeza, daria pra ser melhor. Sendo um R&B quase à capella por conta dos poucos instrumentos que permeiam a faixa, First Time foi composta pela integrante do grupo inglês Little Mix, a Jade Thrilwall, e realmente ela tem muita cara de R&B contemporâneo ocidental, talvez algo que a Jessie J lançaria no meio de algum álbum.
First Time cumpre bem o papel de uma album track: não é tão memorável ou comentável, e existe mais pra fazer volume. Ainda assim, representa uma mudança significativa no tipo de som que o TWICE quer trazer daqui pra frente, com a guitarra ritmada e os trabalhos vocais que deixam a música mais encorpada e até sensual. É um número que a gente nunca imaginaria o grupo performando antes de toda essa construção rumo ao amadurecimento.
3. Scandal
85/100
Felizmente, meus ouvidos foram agraciados com o disco pop quase obrigatório em qualquer lançamento decente do kpop atual. E o TWICE já provou em Eyes Wide Open que sabe apresentar esse tipo de música muito bem. Scandal é maravilhosa e viaja por diversas sonoridades ao longo da sua execução, o que faz um contraponto bem interessante com a faixa anterior. Praticamente está no ponto pra ser um potencial single, caso não tivéssemos Alcohol-Free pra promover o álbum.
Eu sou completamente apaixonada pelo instrumental de Scandal. Ele é tão retrô, mas sem forçar, e acaba desbloqueando algumas memórias da minha infância em frente ao meu Mega Drive. Isso aqui poderia, facilmente, estar na trilha sonora de alguma edição do Streets of Rage, fazendo a vez de representar uma fase noturna do jogo. O piano que emoldura esse refrão pegajoso me transmite uma vibe mais “passeando pela cidade numa noite quente”, provando ser uma música que não só é muito boa sendo executada sozinha, como faz parte de uma narrativa bem subliminar que o álbum traz.
Como curiosidade, a Dahyun é creditada na composição dessa música e, mais uma vez, a bichinha se mostra uma ótima letrista. Em 2020, ela encabeçou a minha faixa favorita do Eyes Wide Open; aqui ela continua com extrema consistência em trazer letras provocativas. Esse refrão todo em inglês é uma das melhores coisas que eu ouvi esse ano, é super grudento, divertido, mas também é muito convidativo: “somos um escândalo, muito gostosas para lidar, você não consegue tirar os olhos de nós, do jeitinho que eu gosto”. Só isso eleva Scandal a outro patamar das album tracks do TWICE.
4. Conversation
70/100
Conversation é a faixa mais curta do álbum e isso, de certa forma, é bem frustrante (por isso a nota caiu tanto). Diferente de First Time, que é muito linear e não tem muito pra onde correr, aqui um potencial enorme foi desperdiçado ao quase dois minutos de música, transformando numa espécie de interlúdio que poderia ter sido melhor trabalhado. Essa linha de baixo pulsando é viciante e serve de guia por toda a faixa, fazendo com que lembre Into You da Ariana Grande, como o Dougie comentou na review dele, só que com um aspecto menos apelativo adicionando essa espécie de “xilofone eletrônico” nos versos.
Aliás, quem cumpre o papel de sensualizar em Conversation é a letra. Parafraseando a própria Ari (que parafraseou o Elvis), um pouco menos de conversa é essencial pra curtir um amor de verão, passageiro, e constrói um clima mais sóbrio para duas pessoas que acabaram de se conhecer possam se envolver da forma apropriada. Puxando um pouco mais o lado da teoria, talvez até seja por isso que Conversation é tão curta. Não é a primeira vez que o TWICE fala de pegação, mas o fato de ser uma letra tão profunda no assunto provavelmente é novidade. Toda essa aura mais sexual é o ponto mais alto dessa música.
5. Baby Blue Love
82/100
O TWICE não se arriscou em um, mas dois números disco pop nesse álbum. Baby Blue Love traz o gênero novamente, só que condensado em algo mais upbeat, dando uma característica de festa na piscina num sábado à tarde. Você pode se surpreender ouvindo essa música porque, apesar de remeter a lançamentos antigos que tinham essa vibe mais “cheerful” e colorida, ela começa bem rasgada, com os timbres bem acima do que o álbum havia trazido até agora.
Baby Blue Love é bem texturizada e isso por si só faz com que ela seja bem mais instrumentalmente rica que diversas faixas do mesmo gênero que o kpop desovou ao longo dos últimos meses. Tem uma pitadinha de Bruno Mars misturada com algumas músicas do Pharrell Williams, daquelas que botam a gente pra cima independente de qualquer problema externo, e os vocais mais “sassy girl” das integrantes apimentam Baby Blue Love pra que ela não caia na mesmice.
6. SOS
85/100
Fechando o álbum com maestria, temos o synthpop mágico e envolvente de SOS, minha faixa favorita junto de Scandal. Eu gosto muito do caráter melancólico de fim de verão que essa música traz, como um fim de tarde de brisa gelada batendo contra o corpo e as malas já prontas no carro pra voltar pra casa. Contando mais uma vez com a Dahyun na composição, o refrão é muito inteligente quando coloca as integrantes pra vocalizar um pedido de socorro tal qual um sonar captando um objeto perdido em algum lugar. Isso e o gancho pós-refrão “you know I just can’t stop it when my heart skyrockets for you” são trechos hipnotizantes.
SOS representa um território familiar pro TWICE, que tanto trabalhou essa sonoridade no seu comeback do ano passado. Com três japonesas no grupo, fica quase impossível não entregar um city pop fiel a sua proposta, mesmo que intercalado com outros gêneros mais “ocidentais”, como o deep house e o ballroom. Essa mistura resultou numa música simples, mas ao mesmo tempo interessante de se ouvir. Uma ótima escolha pra finalizar o álbum.

Com seu segundo full álbum e I Can’t Stop Me, o TWICE provou que sabia segurar um conceito diferente do que elas apresentaram durante toda sua carreira, mas o receio de não conseguir dar sequência era forte, até por conta dos resultados estranhos que a música alcançou na Coreia do Sul. O TWICE é um grupo que trabalha muito, fato que segue sendo impressionante pelos seus seis anos de existências, e a estagnação em que elas se encontravam, musicalmente falando, acabou afetando meu interesse.
É óbvio que elas já se arriscaram em conceitos mais sóbrios; Fancy e Feel Special são provas disso. Mas talvez estivesse faltando uma ousadia maior. Taste of Love se torna um excelente follow-up pra discografia em constante evolução do TWICE, com uma ótima escolha de demos a serem trabalhadas, uma tracklist muito bem montada e sem cair no previsível, que seria lançar uma balada ou uma música de cafeteria pra encher o álbum de fillers. Apesar dos altos e baixos, principalmente por conter músicas muito curtas, eu termino de ouvir o álbum com a sensação de ter conquistado memórias muito boas com ele.
Agora que elas estão mais próximas dos amaldiçoados sete anos, não sei o que vai ser do TWICE daqui pra frente, mas com a oportunidade de ouvir um álbum tão legal quanto Taste of Love, eu sinto um gosto meio agridoce em relação a tudo isso. Eu queria que elas continuassem lançando músicas tão boas quanto as que eu resenhei aqui e noticiar os dez anos do grupo, mas acho que a gente não pode sofrer por antecipação, né? Pelo menos o TWICE me proporcionou um amor de verão muito marcante, e o gosto de piña colada ainda vai permanecer por muito tempo.
Média final: 77/100
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