A sexta é santa, e elas também! As melhores do white aegyo

Quando eu penso na blogosfera, penso em como os nossos antepassados foram influentes numa época onde tudo relacionado ao pop asiático era mato aqui no Brasil. E por antepassados, eu falo do Bruno, o mitológico Asian Mixtape, esse ser que habita as camadas mais profundas da internet como uma lenda, um folclore, contada por gerações. Você deveria ver como era na época do Asian Mixtape, os vilarejos em torno da fogueira contam. Sinceramente, vocês deveriam mesmo ver como era naquela época. Acho que o que mais se aproxima hoje do caos que eram as caixas de comentário do Bruno é a algazarra que vocês fazem na caixa de comentários do Dougie. 

Bom, o Asian Mixtape, entre todos os enormes furdúncios causados e todas as opiniões que eu não concordei, era um grande blog. E não só isso, era um espaço de celebração de um gênero que estava crescendo por aqui. Sempre que penso nele, mando uma mensagem mental de carinho pro Bruno, onde quer que ele esteja, seja lá o que for que ele esteja fazendo agora. E como o grande blog que era, alguns termos foram cunhados por ele ou pelos leitores que acompanhavam o querido, talvez o mais famoso seja o assunto do post de hoje: white aegyo. 

Esse termo foi criado por um comentarista do Asian Mixtape pra definir a onda de pops cristãos que surgiram numa locomotiva gigantesca depois que o maior expoente deles apareceu na mídia, o Apink. E é uma expressão tão usada entre os frequentadores da blogosfera que acabou furando a bolha e se tornando um termo real pra descrever esse tipo de música. Eu mesma nem sabia disso. Usei white aegyo por tanto tempo na vida que só se tornou uma forma de se dirigir aos grupos inocentes de vestidinhos brancos que pipocaram aos montes feito uma praga na década passada. 

Lá fora, eles chamam de christian horse girl music, que sinceramente não tem o apelo simplista pras massas como o white aegyo tem aqui pra nós, mas tem christian no nome e hoje é sexta-feira santa. Então, bam! Um post temático pra falar sobre as minhas músicas preferidas do gênero (que não são muitas, mas). 

O Dougie e o Lunei têm listas iguais, postadas em ocasiões diferentes. Você pode ler aqui e aqui

10. KARA – Rock U

Abrimos a lista com um exemplo que, talvez, seja predecessor daquilo que chamamos de white aegyo, pelo menos da forma que a gente conhece. Mas é uma música fofinha. É como se ela tivesse saído de um dorama adolescente, tipo um Chiquititas coreano, com esse grupo de garotas que têm uma função social, então elas pintam os muros do colégio e dançam enquanto isso. Mais ou menos na mesma época, as rivais diretas do SNSD tinham lançado a também fofinha Kissing You, mas ela nem chega aos pés dessa simpatia aqui. Sem choro.  

09. April – April Story

Antes do April lançar seu babilônico comeback durante a pandemia e morrer meses depois com acusações de bullying (cujo status eu nem sei mais), elas eram um grupo de garotas cristãs. E, por mais esquecida que seja, eu até gosto dessa parte da discografia delas. Toda a fórmula que faz esse tipo de música ser o que é tá aqui, talvez numa mixagem menos inspirada e que faz soar muito do mesmo, mas, well, é bem bacana. Em seguida a gente lembra do diário da Naeun escrito te odeio, te odeio, te odeio pra outra mona lá e é tudo tão engraçado. 

08. Lovelyz – Destiny

Outro grupo de comadres que insistiu nos vestidinhos castos antes de se verem à beira do precipício e rebolarem por cima dele até caírem foi o Lovelyz. Junto de outros aqui dessa mesma lista, elas não só entregaram números muito bons dentro do nicho, como apostaram todas as fichas em se manterem assim, até que o truque não deu mais certo e elas foram obrigadas a virar a chave durante a pandemia pra sobreviver. Destiny deve ser a melhor delas porque entrega a dramaticidade certa que meninas mágicas precisam pra amadurecer. Meio Madoka Magica nos episódios finais. 

07. CLC – Where are you?

Essa MERDA! O CLC realmente foi um sonho febril da Cube, né? Meses antes, elas tinham finalmente ocupado o espaço que Hyuna e suas colegas tinham deixado vago com aquela crocância roubada diretamente da gaveta do 4Minute e que até fez um certo barulho na fanbase e aí, por algum motivo obscuro, voltaram com isso daqui. Essa música saiu diretamente de algum quadro desconhecido que deve tocar na Alpha FM às três da manhã. É uma mudança de imagem tão brusca que faz uma volta completa dentro do círculo cromático do aegyo até virar uma midtempo sensual. Acho extremamente cunt, lamento. 

06. WJSN – MoMoMo

Eu sei, eu sei. O catálogo do WJSN provavelmente tem representantes melhores do nicho, mas eu não estou nem aí porque eu gosto muito dessa porcaria e escuto com mais frequência do que eu deveria. Esse debut é tão bonitinho, quase vira uma cantiga infantil dos tempos modernos. Sabe, aquelas que você vê as mães colocando no YouTube pra manter as crias entretidas por tempo indeterminado. O instrumental explode a todo momento, os sintetizadores frenéticos que soltam arco-íris a cada vez que tocam e, meu deus, o coro autotunado no refrão. É Pinkfong material. 

05. gugudan – Wonderland

Em 2025, as pessoas não fazem ideia do que diabos foi um gugudan. Às vezes, eu também duvido que elas sequer tenham existido, mas, obviamente, foi um dos vários grupos da primeira safra do Produce 101 que deram completamente errado. Esse aqui é um aegyo de verão. Eu realmente consigo sentir as bolhas de sabão estourando na minha pele com o contato, e eu realmente sou transportada pra um mundo fantasioso debaixo d’água, onde finjo ser uma sereia nadando serelepe junto de um cardume de peixes falantes. Uma dessas pérolas injustamente esquecidas que ainda me causam as mesmas sensações de antes. 

04. fromis_9 – To Heart

Uma graça. Escuto essa música desde o lançamento e não cansei até hoje, como pode um grupo ter debutado tão bem? E ser tão bem estruturado, tão completo? Eu sei como: manipulação da Mnet. Obrigada por tudo, Mnet. Conceito escolar é algo mais comum no kpop do que você pode imaginar, mas acho que nenhum desses grupos conseguiu entregar tanto amor e carinho em ser uma adolescente em puberdade quanto o fromis_9. Pode até não ser o clássico do white aegyo de roupas brancas, mas é esse emaranhado de coisinhas fofas estocadas numa caixa que simplesmente explode na nossa cara quando a gente abre. Como é bom ser menina. 

03. Apink – Remember

As três próximas posições pertencem a grupos icônicos no nicho, começando com o grande motivo pelo qual a primeira metade da década passada foi palco de uma guerra entre meninas de sainha curta clara versus meninas de sainha curta escura. O Apink é o nome a ser mencionado quando a gente fala de white aegyo. Elas construíram uma carreira em cima disso basicamente from scratch, de dentro de uma empresa que nasceu junto com o grupo e, muitas vezes, desbancaram atos fortíssimos da época nos Raul Gils da vida. Em Remember, elas já eram enormes. O refrão é fantástico, como ele mesmo se dá um chacoalhão e implode, virando algo completamente diferente. 

02. Oh My Girl – The 5th Season

Closer é sagrado, eu sei disso. Não vou tirar sua razão. Eu gosto da coreografia que simula constelações, gosto de como ela soa como uma música gospel de alta qualidade, mas acho que todo mundo já deu pitacos muito bons sobre Closer e eu não quero ser só mais uma nesse meio. Fora que, ahm, eu acho The 5th Season muito mais grandiosa no sentido do white aegyo mesmo. Era 2019, o kpop entupido, saturado de girl crush aqui e ali, e o Oh My Girl seguiu sendo resistência botando essa pro mundo. E é uma faixa tão linda… Ela basicamente pega aquela do Lovelyz de posições atrás, daquilo de ser música de mahou shoujo, e faz alquimia. Sim, The 5th Season faz mágica diante dos nossos ouvidos. Eu sempre fico sem ar entre o refrão e a ponte, a maneira tudo toma forma e ocupa todo o espaço, é como se eu atravessasse uma dimensão cósmica e me transformasse. 

01. GFRIEND – Me Gustas Tu

Mas o white aegyo é, também, o tipo de música que garotas cristãs norte americanas escutariam enquanto tiram fotos com cavalos no meio da fazenda ou votam no partido republicano no seu aniversário de 16 anos, ou algo nesse sentido, e aí, nesse quesito, o GFRIEND é imbatível. Não tem como algo ser mais christian horse girl pop nesse planeta do que Me Gustas Tu e vocês sabem disso. Olha essas garotas, cafonérrimas. Todas com o mesmo cabelo, a mesma roupa, cantando em cima de um pop self-made na garagem do tio, que por acaso é pastor da igreja batista, e lançou CDs caseiros a 0,99 dólares na Barnes and Noble. É o grupo de crentes que você evita olhar por serem iguais demais, é intimidador. E tudo em Me Gustas Tu é tão exagerado, sempre penso ser uma versão pra garotas de um filme do Michael Bay porque tudo explode, tudo é tão detalhado, tem um violino e um riff assombroso de guitarra andando juntos, e meninas altamente sincronizadas dando piruetas em uníssono declarando o amor que você já não tem mais tanta certeza se é pra um humano ou uma divindade. E é perfeito. Porra, Me Gustas Tu é perfeita. Quero que toque no meu enterro. 

Bluesky | Twitter

3 comentários sobre “A sexta é santa, e elas também! As melhores do white aegyo

  1. Finalmente alguém que reconhece que To Heart é um dos melhores aegyos já lançados! Fromis_9 teve suas derrapadas mas desde o debut entregam muito

    Curtir

Deixe um comentário