Comercial AYO GG | An Iron Hand In A Velvet Glove, por JINI

Dia das crianças, estou de folga e de ressaca porque ontem minha irmã veio aqui em casa e a gente ficou bebendo as coisas mais duvidosas até às três da manhã pra comemorar algo muito grande e muito legal que aconteceu na minha vida profissional, então eu não tinha realmente nenhuma intenção de escrever pro blog hoje, apesar de ter sentado aqui no computador pra ouvir todas as coisas que eu tinha marcado na minha agenda e jogar na playlist do Spotify tudo que eu tinha gostado pra depois falar sobre uma ou outra eventualmente. Aliás, ontem saiu uma caralhada de música nova, né? Cara, nunca mais eu tomo vinho…

Enfim, não ouvi tudo ainda, mas dentre tudo que estava programado pra ser lançado, o que mais me deixou curiosa foi o debut solo da ex-NMIXX JINI, antes com dois “n”, que até hoje eu não faço ideia de quem seja se me mostrarem uma foto do grupo completo e também não sabia muito o que esperar. As possibilidades eram muitas: ser uma cantora de baladas, uma k-indie pseudo conceitual que fede a suvaco, uma rapper no esquema de pirâmide do Jay Park, uma afilhada do Psy, BJ do AfreecaTV… Realmente um futuro esplendoroso aguardava por ela e, por incrível que pareça, qualquer uma dessas coisas soa melhor do que as bobagens que o NMIXX vinha soltando. 

Só que, tal qual seu antigo grupo, JINI resolveu que seria a mais nova madrinha de todos nós, gays e mulheres afeminadas que consomem kpop e têm um blog furreco de opiniões questionáveis. E não só isso: o debut dela é recheado de pequenos detalhes que fazem a gente gritar that’s not mother that’s OMMA, ou algo assim. Além de estar na empresa Abstract To Concrete (sério), com um sonho e uma luva de veludo, esse EP de nome extremamente cuntress foi o motivo de eu parar tudo que eu estava fazendo e abrir um novo documento pra escrever mesmo de ressaca. Provavelmente deve ser não só a melhor coisa desse mês, como o melhor lançamento do ano, então… She ended kpop I’m afraid.

O que me faz pensar que o EP de estreia da JINI é essa coisa toda está justamente em não ser nenhuma novidade. Na sua passagem pelo NMIXX, limitada a versos de rap e qualquer outra função que os dois singles permitam (na medida do possível), é possível perceber que, pro bem ou pro mal, grupos de kpop acabam enfiando os idols em caixas designadas com propósitos engessados. Muito se especula sobre a saída dela do grupo, mas sei lá, às vezes pode ter mesmo a ver com a falta de identificação com os rumos que a JYPE tava dando pra essas pobres coitadas, então toda quebra de expectativa pra mim é válida. É o que acontece já na música que abre o EP, Here We Go Again (um nome não intencionalmente engraçado, não vou mentir). 

Como eu disse ali pra cima, nenhuma faixa da tracklist tenta ser a reinvenção da roda, mas faz um ótimo trabalho ao apresentar uma nova faceta de uma idol que deixou pra trás uma “grande” oportunidade. De uma forma bem mais simplificada, acho que Here We Go Again é um ótimo exemplo de como construir uma música não-linear, algo que o NMIXX fez nos seus dois primeiros singles no chamado “mixxpop”. Ela soa orgânica e natural, sendo desenhada por esse registro vocal mais grave que eu acredito que deva ser a zona de conforto dela, diferente dos grunhidos rasgados e completamente derivados de outras tentativas de rappers coreanas feito um grande Frankenstein aos quais era submetida. 

O clima do EP vai se tornando cada vez mais introspectivo ao longo das faixas, o que transforma C’mon numa faca de dois gumes. Mas sabe o que é bom nisso tudo? É que os dois gumes cortam muito bem. Ela poderia debutar com qualquer coisa, qualquer mesmo: nada seria tão ruim quanto o que a JINI enfrentou no NMIXX. Somando ao fato de que a experiência anterior deve ter sido traumatizante e outros girlgroups têm investido cada vez mais nesse tipo de sonoridade, C’mon parece ter saído no momento exato. É uma música elegante que ganha corpo e se desenvolve nos nossos ouvidos sem perder sua essência, construída por cima de um instrumental “electroindie” como uma versão adolescente de qualquer coisa que a Robyn faria. 

Talvez esse seja o momento mais brilhante da JINI ex-(?)-idol até então. É incrível como C’mon soa como se ela já fizesse esse tipo de música por anos, e eu sempre achei muito fácil errar nesses números eletrônicos mais tímidos porque o resultado pode ser frio, distante, quase indiferente. Aqui, a produção faz parecer com que as notas cheguem como se estivessem presas numa estufa, num banheiro abafado, numa panela de pressão cozinhando sopa ou num abraço quentinho. Inclusive, tem um verso no refrão que diz mais ou menos “você parece ser feito de música” e eu pensei em como essa deve ser a declaração de amor mais bonita do mundo. Claro, tudo isso da forma mais lacruda possível.

A prova de que esse EP é um lançamento acima da média é estarmos na terceira faixa seguida sem deixar a qualidade cair. Dancing With The Devil continua pelo caminho eletrônico, mas dessa vez é guiada por um baixo mais grooveado, algo que me remete, de forma óbvia, ao Daft Punk e o excelente álbum Random Access Memories. Como o nome sugere, a pegada da faixa é um pouco mais sombria e, na maior parte do tempo, bem enxuta, até a música se transformar numa coisa mais teatral, com uma espécie de coral gospel corrompido pelo pecado e sintetizadores diabólicos. Quando a JINI apresenta o refrão cantando que esteve dançando com o coisa ruim calçando seus stilettos vermelhos, eu tive uma visão de O Mágico de Oz caso a Dorothy despirocasse e deixasse a fazenda em Kansas pra trás. 

Talvez o único momento onde o EP perde força seja a faixa que fecha a tracklist, e que estranhamente serviu como um pré-release. Não que Bad Reputation seja ruim; na verdade, parece uma escolha segura pra se lançar uma solista numa empresa pequena sem acabar com a vida dela (como o JYP tinha feito, heh), mas é uma música inofensiva. Consigo ver absolutamente qualquer outro artista, entre grupos e solistas, do mainstream ou não, enfiando algo desse tipo nos seus respectivos álbuns, mas dá pra entender a estratégia. Diferente da Chuu, que infelizmente deve aparecer nos próximos dias com um trabalho desinteressante, a JINI desponta como um refresco nesse mar de lançamentos do kpop recente, muito segura das escolhas e influências que devem dirigir os próximos passos da sua carreira.

Nota: 9,5/10

Favoritas: Here We Go Again, C’mon (ft. Aminé), Dancing With The Devil

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4 comentários sobre “Comercial AYO GG | An Iron Hand In A Velvet Glove, por JINI

      1. Eu não sei eu só ouvi C’mon, então como você tem bom gosto na maioria das vezes vou confiar em você então não exagerou

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