YooA conseguiu provar que, definitivamente, não precisávamos do retorno de duas coisas: Meghan Trainor e o dela

De alguma forma, o Oh My Girl mora numa zona cinzenta comigo, ainda mais nos últimos anos. Mas enquanto a reputação e relevância do grupo representavam o lado negativo da tangente, a YooA acabou estreando solo e trouxe o que deve ser um dos EPs mais interessantes dessa nova década, explorando um lado experimental do pop que dificilmente daria certo com qualquer gatinha por aí (até com ela mesma).

Daí o Oh My Girl tá sofrendo no ostracismo, trazendo o mesmo formato preguiçoso de música e, ainda por cima, uma das queridas lá acabou batendo em retirada. Se elas vão sobreviver por mais algum tempo depois disso? Não sabemos, mas alguém precisa comprar as marmitas das integrantes, então a WM fez a cantorinha botar o gogó pra jogo e trabalhar no seu primeiro comeback depois de dois anos, algo que soa muito estranho pra mim porque, bom… Perdeu um pouco do hype, né? Pelo menos tudo indicava que a YooA alcançaria novamente seus ótimos feitos, como na era Bon Voyage.

Quer dizer… Tudo menos Selfish.

A gente tem um problema aqui logo de cara, e não tem exatamente a ver só com esse comeback: faz um tempo que a equipe da WM simplesmente não sabe o que fazer com as ideias que tem. O Oh My Girl, desde antes do viral até, entrou na era de “álbuns mockup” e serviu umas músicas cada vez mais chinfrins, nem de longe lembrando o esplendor que o The Fifth Season é. Algo semelhante rolou com o debut da Chaeyeon, que tinha um conceito incrível que eu cheguei a comparar com a Tommy heavenly6, mas o single saiu e são coisas tão diferentes que chegam a ser extremos antagônicos. E agora temos Selfish.

De modo mais pessoal, Selfish me irrita. É claramente um sinal da volta da Meghan Trainor ao pop mainstream depois que Made You Look viralizou horrores no Tiktok (o fato de todos os vídeos dela na plataforma, postados de forma exaustiva, usarem a própria música ajudou muito no trabalho do algoritmo). E, bom, asiáticos num geral meio que gostam dessas patifarias, principalmente da Meghan. Não me surpreende alguém apostando no estilo, mas sim a YooA ser esse alguém, ainda mais com o debut conceitualmente aclamado, pelo menos pelos blogueiros brasileiros.

A música é bem chata num geral, e os vocais da YooA não encaixam, apesar de terem o tom perfeito pra esse tipo de pop. Não é algo divertido de ouvir, eu sinto um desconforto melódico de uma faixa inacabada ou mal produzida, principalmente no refrão, o ápice de todo o tédio que Selfish me causa. O que é estranho porque, bem lá no fundo, eu consigo escutar uns elementos legais que fariam isso aqui ser outra coisa nas mãos de quem sabe o que faz, como o pré-refrão que, de tão bom, é quase melancólico, exemplo da sagacidade musical que o EP de estreia da YooA trouxe muito bem.

Não tenho nada contra músicas bobas, ou contra a Meghan Trainor. O que pega mesmo é que coisas como Selfish grudam na cabeça por insistência, como se seu cérebro se recusasse a abrir a porta, mas faz por pura pressão de quem não para de tocar a campainha. E são nesses exemplos que moram o perigo; quem disse que eu consigo parar de cantarolar Made You Look pela minha casa? É aquele tipo de faixa que te acompanha por todos os cantos no dia-a-dia e, tal qual uma praga, é extremamente difícil de se livrar. O que me deixa meio frustrada porque a YooA é uma das solistas mais inesperadamente interessantes de se acompanhar, aquela junção de voz não-tão-aguda e diferenciada num pop étnico como Bon Voyage ou num disco beegeesesco como Diver. Uma pena Selfish não seguir a mesma linha e fazer parte do hall dos esquecidos da WM de forma instantânea.

Escute também: Lay Low

Enquanto eu ouvia o EP, ficou cada vez mais claro o desperdício não só de lançar Selfish como single principal, mas também de botar ele na tracklist. Musicalmente, a YooA não decepciona e entrega, mais uma vez, exemplos preciosos do pop atual, assim como tinha feito há dois anos, tanto que foi difícil demais decidir o que eu recomendaria aqui. Lay Low é a mais conhecida entre as três inéditas do EP, já que foi escolhida como pré-single, mas claramente se mostra como uma ótima substituta pro que recebemos como produto final. Existe uma energia alternativa aqui, como se a BIBI e a Caroline Polachek tivessem uma filha, e justamente por isso acredito que tenham mantido Lay Low como álbum track. Mas é uma ótima pedida, junto do restante das faixas (Blood Moon também é outra delícia), pra quem achou Selfish uma perda de tempo. Podem ouvir sem medo.  

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Um comentário

  1. Concordo muito com selfish ter um elementos escondidos interessantes. O pré refrão realmente tem uma qualidade melancólica que destoou tanto do resto da faixa que aparece até que foi outro produtor que fez. Se você ouvir o instrumental da faixa, da pra ouvir um coro também super agridoce no refrão.

    A WM realmente tem a faca e o queijo na mão mas parece que ao fazer a janta eles vão lá e cortam o dedo. Tá chato isso, eles precisam arrumar a casa logo.

    Curtido por 1 pessoa

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