Repetindo a estratégia que eu usei pra comentar os lançamentos das ex-algum reality da Mnet, esse post tem como objetivo dissecar de forma rápida mais duas músicas, dessa vez desovadas por grupos considerados do alto escalão do kpop. Particularmente, eu não sou muito chegada em coreanos cantando em japonês. E, talvez um pouco mais polêmico: só o TWICE (e o TVXQ do lado masculino) conseguem lançar coisas realmente legais no mercado nipônico.
Mas como o gosto do ouvinte é sempre ignorado nesses casos, Red Velvet e ITZY marcaram seus comebacks japoneses para o mesmo dia (o dia global de lançamentos no Japão, inclusive). Tenho ressalvas a respeito das boleiras, e o ITZY nunca deve ter feito nada inédito por lá até o momento. E, apesar dos MVs já terem saído no mês passado, não sei direito o que esperar pra escrever esse post aqui. Pode ser que eu me surpreenda e acabe elogiando um certo grupo aí.
Começando pelo Red Velvet, finalmente a SM botou pra jogo a continuação de Psycho que a gente achou que viria no último comeback coreano. E, assim, ainda bem que não veio. Não entendi a proposta sonora de Wildside pra ser sincera; ela começa legal, inclusive bem mais encorpada que a sua parente de 2019, dosando a dramaticidade e a sensualidade que um número R&B desse tipo precisa ter. Os vocais estão no ponto, contidos e provocantes, enquanto o instrumental vai crescendo devagarinho dentro dos limites que os sintetizadores propõem. Por um momento, eu achei que ia dar certo, finalmente um lançamento mais maduro na discografia japonesa delas.
E aí chega o refrão. Horrível, péssimo, criminoso. INSALUBRE. As vozes são engolidas pela música extremamente alta, onde a produção perdeu a mão e os versos se tornam uma cacofonia desesperadora de far away far away tataku tataku e, sei lá. Me prometeram nas redes sociais que Wildside soava muito melhor que Feel My Rhythm e eu estou esperando até agora o momento em que essa palhaçada vai fazer a curva e ficar boa de verdade enquanto marco uma consulta no otorrino. O refrão matou toda a atmosfera sóbria, daí acaba não conversando nem com o kpop barulhento atual, nem com as trends eletrônicas do jpop. A melhor coisa é ouvir a Joy miar nas partes dela, mas fora isso foram tempo e investimento jogados no lixo.
Pra não dizer que o primeiro full álbum japonês do Red Velvet é uma merda (porque é), eu gostei de Jackpot. Mesmo se não for exatamente o que você espera, ela acaba se destacando na tracklist justamente por ser um hit nipônico muito mais orgânico, e com muito mais identidade pro mercado que se propõe. A sonoplastia é perfeita, e se pegar só o instrumental dessa música parece uma fase de cassino presente em quase todos os jogos de plataforma que eu já joguei na infância. Além disso, o jeito que elas cantam, os versos em coral, e a forma como tudo se constrói me remete muito a um grupo idol japonês mesmo, talvez algo que a própria Hello! Project se atreveria a fazer na Platinum Era do Morning Musume, ou a própria SM fez com o EXO-CBX em Ka-ching! Perderam uma ótima oportunidade de explorar o conceito aqui.
Já o ITZY voltou pra sua persona mais escrachada (e a única que faz sentido nelas) em Voltage, esse que é o primeiro single inédito em língua japonesa. Musicalmente, isso aqui tá legalzinho, dá pra passar um bom tempo fazendo outra coisa, tipo uma faxina, enquanto toca na TV da sala. É mais ou menos o conceito que eu queria ter visto em MA.FI.A in the Morning, com o grupo dançando sabendo que isso não é pra ser levado a sério em nenhum minuto, com gemidos e gritinhos deslocados e deliciosamente divertidos. Além da coreografia da ponte, com elas marchando de trenzinho e encarando a câmera.
Não sei se é algo que eu vá escutar com frequência, mas ver um número desses saindo do ITZY depois do fiasco que o 2021 delas foi, até me deixa um pouco animada pra ver o grupo entrando nos eixos de novo. Essa coisa meio debochada e adolescente foi o que fez sucesso e moldou a personalidade idol das cinco e, mesmo que Voltage não seja exatamente o que o público japonês goste de consumir (tá sendo vendido a preço de banana), é uma ótima chance da JYPE rever os planejamentos e trazer de volta a roupagem com a qual elas debutaram.
Sobre a b-side… Já não achei tão boa assim. Spice não tem nada demais, mas é basicamente uma demo de kpop traduzida pro japonês e, dessa forma, ela não chega nem a engatar pra causar alguma reação em mim. E o pior: além de soar como kpop, é ainda uma demo vencida, talvez algo que estivesse mofando na gaveta do Jinyoung por 5, 6 anos. No final, não se encaixa em nenhum aspecto que o ITZY já apresentou, se assemelhando às próprias b-sides dos álbuns coreanos delas (das quais eu não gosto em, sei lá, 98%).
Qual delas é boa de verdade, então? Clique aqui e descubra.
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