Um dos grupos rookies mais fortes dessa geração (só não mais fortes que as minhas tidinhas lindas), o Purple Kiss vem surpreendendo a quem passa por elas distraído. Mesmo que nem todas as tentativas tenham sido boas, impressiona a qualidade do que é entregue e também pela velocidade da RBW em afundar o MAMAMOO de vez pra fazer com que elas brilhem por completo como o único girlgroup ativo da empresa. E eu, que gosto cada vez mais do Purple Kiss e menos do quarteto, torço pra isso acontecer.
Elas emplacaram dois ótimos minis logo no ano de estreia, o que é extremamente incomum. Óbvio, foram ótimos dentro do que se espera pra um grupo novo e, levando em consideração que quase nenhum deles consegue ao menos lançar um single bom hoje em dia, esse feito é extraordinário. Então a expectativa pra memeM tava ENORME, ainda mais com o highlight medley promissor. Já a faixa-título…
Vamos às considerações depois de ver o MV.
Olha só, de primeira eu já consigo dizer que esse nem parece o mesmo grupo que lançou Zombie no ano passado, mas também não parece o mesmo que estreou com Ponzona. Isso é faca de dois gumes porque, ao mesmo tempo em que é muito legal ver versatilidade, carisma e qualidade andando juntos, as empresas acabam apostando nisso aqui quando precisam dar uma imagem mais edgy aos grupos. Ninguém pensa mais no sexy e isso já é mais que um fato, não estamos mais em 2014, mas o que me incomoda é a escolha questionável de estilo mesmo. Não sei quem estabeleceu que o hyperpop seria um gênero bom de se investir no kpop se nem a mais famosa do meio aqui no ocidente, que é a Charli XCX, usou no último álbum dela.
Talvez eu seja velha demais pra entender que o hyperpop é um movimento artístico que se usa da criatividade para testar os limites do pop ou qualquer coisa assim, mas, mesmo memeM sendo uma bola fora do Purple Kiss, a música me parece muito mais bem produzida do que as outras que o kpop já desovou nesse estilo (como WA DA DA e O.O, que são só uma merda mesmo). A percussão metálica por si só não é lá grandes coisas, a gente ouve uma dessas toda semana, mas os sintetizadores pitchados são um charme e fazem com que a faixa ganhe o mínimo da minha atenção. Eles criam uma tensão que deixa tudo meio intimidador, é como escutar um órgão ecoando nas paredes de uma igreja.
O ápice de tudo é o refrão, principalmente a segunda parte dele. O que a Goeun faz com esse rap girlcrush qualquer que fica repetindo onomatopeias sem sentido pra se transformar numa camada ainda mais desesperadora de pitched synths enquanto ela deposita toda sua potência vocal… Não é brincadeira, não. Ainda passa a bola pra Swan fazer o gol. É disparado a melhor parte de memeM, muito bem utilizada nos teasers no geral. Esse mérito vai pra RBW, que conseguiu extrair tudo que tem de bom na música (ou seja, esses segundos do pós-refrão) e meteu em todos os materiais de promoção. Todo dia um malandro e um otário saem de casa; a empresa malandrou e conseguiu me enganar direitinho.
A essa altura, o Purple Kiss não é mais tão cromático assim. No começo, era bem perceptível essa quebra de conceitos mais “azuis” ou mais “vermelhos”; agora as cores foram se misturando e isso meio que se dissipou, o que é bom, mostra que as meninas não são mais tão amadoras assim, e o hyperpop até que serve como um ótimo gênero pra demonstrarem isso. O problema é que, a partir da segunda parte da música, a boa pesquisa da empresa se perde e tudo vira um grande trap industrial. Talvez se elas tivessem mantido a mesma linha, experimentando, comprimindo e distorcendo sons como nos primeiros versos, eu poderia ter gostado mais? Não sei, mas pelo menos se manteriam bastante fiéis à proposta toda.
Num geral, memeM representa uma triste queda nas entregas do grupo, tanto em musicalidade quanto em conceito. O MV mesmo acaba sendo bem genérico nisso de querer mostrar uma roupagem mais moderna nessa coisa de bruxas que o Purple Kiss tem, em invadirem a mente de alguém como um vírus. Os efeitos seguram bem, e até conversam com o instrumental, daquilo de distorcer e tal, mas, sei lá, não fiquei convencida. Acho triste porque, entre seguir a linha divertida de Zombie e se jogar nos modismos da geração atual, o Purple Kiss ficou abandonado no meio do caminho, comprometidas em trazer algo que realmente tenha um empenho por trás, mas que não se cumpriu por inteiro. E eu, pelo menos, considero isso bem pior do que acertar ou errar.
Escute também: Pretty Psycho
Por sorte (minha e delas), o Purple Kiss continua lançando bons álbuns (com ressalvas na tracklist, claro). Três seguidos, minha gente? Pergunta pro Kep1er ou pro outro grupo lá da JYPE se elas vão conseguir acompanhar isso, senão podem disbandar. O memeM segue bem o que eu falei mais pra cima, de ser cada vez mais difícil identificar “isso ou aquilo” nas faixas do Purple Kiss; a medida que o tempo vai passando, elas vão ficando cada vez mais “purple”, brincando com os gêneros e explorando os vocais de formas inimagináveis. Só que, diferente dos álbuns anteriores, aqui rolou uma coisa enquanto eu ouvia: o álbum nem tinha acabado e eu tinha a certeza de que Pretty Psycho seria A MÚSICA desse lançamento. Eu nem pedi por um ballroom e elas trouxeram. Consideração com os ouvidos, sabe? Sua fave não tem isso. Pretty Psycho não segue os moldes comuns do house, apesar de ser bem forte dentro do estilo, inserindo elementos que fazem com que a atmosfera da música seja a de um boss do Streets of Rage ou algo assim. Sempre vai ter uma música do Purple Kiss que eu vou aclamar mais que o single, e Pretty Psycho é a da vez.
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O maior problema pra mim, mas o PROBLEMAÇO disso tudo é que a produção é TE-RRÍ-VEL. Não há entrega real em ser experimental, e, por outro lado, também não há entrega em ser uma música pop básica mas que funciona. É sempre essa balança tentando agradar gregos e troianos, querendo que a música venda pra cacete mas ainda podendo sustentar a palhaçada ambiciosa de ser ”pop de vanguarda”. Isso me incomoda horrores em praticamente todos lançamentos ”hyperpop” de grupos coreanos.
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