Desbravando a música pop (e afins) japonesa, parte 3

You know the drill. Tenho esse projeto megalomaníaco (um de vários tantos) de ouvir álbuns japoneses lançados no período de 1995 e 2010 e catalogar todos em uma enorme lista que eu criei lá no infame Rate Your Music. Inclusive, esses dias descobri que um usuário de lá incluiu a minha lista numa lista maior ainda sobre música japonesa, e essa lista está dentro de outra lista de músicas do mundo todo. É, o Rate Your Music tem essa funcionalidade também, você pode criar listas dentro de listas que vão generalizando cada vez mais a busca. Fiquei um pouco… Honrada? Agora outros usuários podem encontrar essa minha lista com mais facilidade e indicar pra amigos. 

Enfim, esse quadro não tem uma frequência exata, vou soltando quando achar que o blog tá parado e que vocês merecem um pouco da minha sabedoria (pff). É até impressionante que ele tenha sobrevivido por três partes. Pra hoje, resolvi incluir algumas novidades quando vi que a minha fonte inicial estava “secando” (não exatamente secando, mas eu tinha enjoado de passar páginas e páginas de álbuns e ficar catando algum que chamasse a minha atenção), então agora as recomendações incluem trilhas sonoras. Nessa edição, temos duas. Também achei que o post tá um pouco mais otaku que o normal. Talvez eu tenha tido um lapso emocional reassistindo Naruto Shippuden nos últimos dias, nada demais. 

Ah, vocês também podem recomendar álbuns desse período pra mim se quiserem, vou curtir muito. Mas assim, não quero recomendações do tipo a discografia japonesa do SNSD. O intuito desse quadro é falar sobre trabalhos que, talvez, sejam menos conhecidos entre as pessoas que frequentam o blog, ou até que se interessem por música japonesa fora do circuito de animes e/ou divas e não sabem por onde começar, até porque eu mesma também to descobrindo muita coisa nesse processo. E tem que ser do período que eu falei lá em cima (pode até ser um pouco antes, 1990 ou algo assim, porque aí eu posso juntar e fazer uma edição especial de recomendações). Não vou ouvir o novo álbum do Love & Live ou qualquer baboseira que esteja charteando na Oricon nesse momento. 

01. hitomi – Huma-Rhythm (2002): Sei que todo mundo tem sua grande diva japonesa dos anos 2000, mas, pra mim, a personificação dessa era é a hitomi. Olha só esse clipe, essas roupas, esses trejeitos. O mundo todo estava preso numa grande incerteza porque as Torres Gêmeas tinham acabado de cair e ela nesse pique, tipo assim, a vida continua. Se você escuta Samurai Drive e não tem vontade de engolir essa música, sinto muito. 

02. The Mad Capsule Markets – 010 (2001): Não é um álbum que se compromete tanto com o industrial como a banda tenta vender (ou talvez esse trabalho em específico se perca um pouco nisso). Soa muito como se o Nine Inch Nails na verdade se chamasse Crush 40 e estivesse compondo a trilha sonora do Shadow the Hedgehog, e algumas faixas só são interessantes por conta disso. 

03. Halcali – Halcali Bacon (2003): Algumas pessoas vão te falar que o Eminem já fazia pop rap muito antes, mas o Eminem não é uma garota. Ele não pode entender o verdadeiro significado de diversão. Sabe quem entendeu o que o Halcali tinha pra dizer? O Kero Kero Bonito. Eles sim absorveram a melancolia feminina escondida nas entrelinhas de Otsukare Summer. 

04. Sambomaster – Sambomaster Has Something to Say to You (2005): Tem esse gênero muito específico do Japão chamado seishun punk, onde as composições são voltadas pras questões intrínsecas da juventude combinadas com os vocais agressivos do punk rock. Provavelmente não vai ser o melhor álbum desse nicho que você vai ouvir, mas a segunda melhor abertura de Naruto (no geral) está nele. 

05. Mu – Afro Finger & Gel (2003): Se o Roger Waters fosse uma japonesa com sede de lacre, Another Brick on the Wall soaria exatamente como Jealous Kids. Aqui ela previu o surgimento do LCD Soundsystem, Justice, Cansei de Ser Sexy e todas essas bandas de electroclash com roupas legais e que eu queria ter sido amiga íntima na minha adolescência. 

06. Ryuichi Sakamoto – Smoochy (1996): O último grande grito pop do Sakamoto antes de partir pras experimentações minimalistas é tão cosmopolita, tão bonito. Eu não sabia o quanto ele gostava de música brasileira. Tem pessoas brasileiras importantes trabalhando na produção desse álbum. Escute Poesia e sinta o sol queimando a sua pele de um jeito que você nunca sentiu antes. 

07. NICO Touches the Walls – Who are you? (2008): Todas as linhas da minha vida como jovem adulta estão fundamentadas nesse álbum. Me disseram que os jovens perdoam fácil, e eu perdoei. Me disseram pra abandonar os prédios da cidade, e eu abandonei. Me disseram pra dançar feito louca, e eu dancei. O fim da noite chegou e as consequências dos meus erros caíram em mim feito tijolos. Então por favor, só me beije, me beije a noite toda.

08. Nujabes, Fat Jon – Samurai Champloo Music Record: Departure (2004): Se esse fosse um álbum só do Nujabes, talvez ele soasse um pouco melhor pra mim, mas tudo bem. Samurai Champloo tem uma trilha sonora impecável, dividida em impressionantes quatro álbuns. Como pode isso? O anime só tem 26 episódios. Departure é o mais conhecido e, provavelmente, o mais legal deles. 

09. Shinichi Osawa – The One (2007): Tudo o que o Osawa tinha pra fazer The One era uma obsessão incontrolável pelo The Chemical Brothers. Ele precisava mostrar pra todo mundo como essa música que ele descobriu era boa, até que só mostrar não foi o suficiente, então ele regravou Star Guitar e fez disso o restante da personalidade do álbum. Ainda bem que ele fez. 

10. Hideki Naganuma – Jet Set Radio (2000): O meu sonho de infância era ter um Dreamcast, mas a Sega faliu e eu ganhei um Playstation 1 quando todo mundo já tinha, no mínimo, o 2. Por conta disso, Jet Set Radio é o meu jogo preferido da categoria de jogos que eu nunca joguei. Grafitar as ruas de Tokyo-to? Fugir da polícia num par de patins? Ouvir a rádio pirata do Professor K? Não sei, minha mãe comprou Bomberman Fantasy Race pra mim.

11. Cornelius – Fantasma (1997): Enquanto eu não poderia me importar menos com qualquer coisa que o Flipper’s Guitar tenha feito durante a sua existência, eu me importo e muito com o que o Cornelius fez depois. Ele bateu o Sgt. Peppers e o Pet Sounds num liquidificador, ultraprocessando a essência desses dois trabalhos, e tomou de golão. Dizem que ninguém mais gravou um álbum de shibuya-kei depois daqui. Talvez tenham razão.

12. Asian Kung-Fu Generation – Kimi Tsunagi Five M (2003): Gostar de AKG a essa altura é coisa de adolescente mal-resolvido com a vida. E eu sou uma adolescente mal-resolvida com a vida, por isso gosto de AKG até hoje. Ninguém é capaz de me impedir de gritar músicas como Mirai no Kakera ou Natsu no Hi Zanzou, tão infundidas com meu cérebro, a plenos pulmões e uma pronúncia bem duvidosa da língua japonesa que eu nem sei como, mas eu sei o que eu to cantando. Eu sei.

13. Midori – Aratamemashite, Hajimemashite, Midori desu. (2008): Cara, eu não sei o que foi essa banda até hoje. Um meteoro rasgando o céu e borbulhando de calor incandescente ao atingir o solo talvez seja uma boa explicação, mas não o suficiente. Muitos gritos. O cara disseca um contrabaixo na nossa frente. É um piano caindo em alta velocidade por um lance de escadas infinito pronto pra esmagar alguém de forma cômica. Em boa parte do tempo eu não faço ideia se isso ainda é música. Tão visceral e tão frágil, você nem sabia que essas duas coisas andavam tão próximas. O caos é bonito. 

Bluesky | Twitter

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