Se gostar do novo NMIXX for um crime, eu estarei rebolando dentro de uma cela ao som de Dash

Depois de uns bons meses, o saldo do NMIXX comigo é muito positivo. No ano passado, os três singles principais do grupo fizeram sua participação na lista das 100 melhores, sendo que Party O’Clock abocanhou um belíssimo segundo lugar como já previam as minhas execuções do Spotify. Só que o medo sempre volta. No finalzinho de 2023, elas deram o tom sombrio naquele pré-release que até podia não ser o pior dos mundos levando em consideração o que a JYPE já fez, mas com certeza trouxe flashbacks de guerra. 2023 tinha sido ótimo, não tinha necessidade de aprontar essa. 

Ouvi o highlight medley com bastante cautela. Me interessei pelas sonoridades mesmo que nenhuma delas fosse uma continuação do garage house que elas tinham plantado lá em julho, mas também não queria me iludir. É sempre bom segurar a emoção com esses grupos que já decepcionaram a gente alguma vez, principalmente no caso do NMIXX que abriu minha boca e cagou lá dentro quando dei play nisso aqui. E, ainda que grande parte de mim quisesse que o som do ano passado fosse mantido, acho muito difícil o raio cair três ou quatro vezes no mesmo lugar. 

Estamos em janeiro de 2024 e uma pergunta continua rondando minha cabeça: por que o NMIXX debutou daquele jeito? Analisando o cenário e as principais empresas da indústria na época, O.O realmente não se destacava em nada. A HYBE já apostava num R&B mais lustroso com o LE SSERAFIM e também estava prestes a lançar sua maior promessa, fruto de uma parceria com a ex-SM Min Heejin, e acabou dando origem a uma nova era de músicas refrescantes e divertidas. O tal mixxpop que a JYPE tentou vender não era tão revolucionário assim, até porque, meses antes, o aespa já havia aperfeiçoado sua costura de sonoridades em Savage e foi um sucesso. Outros grupos, como o já veterano (G)I-DLE, arrastavam o país num roupagem rock, enquanto o IVE brilhava nas suas releituras de pop 2000s e disco music. Não tinha espaço pro NMIXX na nova geração e era patético de ver.

Assim como as irmãs mais velhas do ITZY, o grupo penava pra encontrar seu nicho. E é complicado quando até as características que deveriam tornar o NMIXX único no cenário falharam de forma miserável em atingir seu público-alvo. Quer dizer, aparentemente gostar do tal mixxpop hoje é considerado camp, avant-garde ou, como diria minha mãe, prafrentex. Sempre vai existir o grupinho isolado de pessoas que choram contra a parede dizendo o quanto elas eram incompreendidas com pedaços abomináveis de produção musical onde é notável a falta de empenho da galera envolvida. Sempre tive a impressão de que o NMIXX é um projeto feito às pressas, que deveria ter sido lançado num futuro um pouco distante, mas os péssimos resultados do ITZY com o coreano médio adiantaram o processo. 

Só isso explica Dash ser tão gostosa. Porque, considerando que o grupo foi pré-anunciado em 2021, o tal futuro onde o nascimento do NMIXX deveria ter acontecido era um dia qualquer de janeiro de 2024 e vocês não vão mudar essa percepção. Em Dash, elas estão plenamente conscientes dos seus respectivos papéis dentro do kpop, ainda que um hip hop old school para meninas que nem tinham nascido quando o HOT lançava um desse por dia não seja realmente a reinvenção da roda. Mas é aquele negócio de identificação natural. Os planetas se alinharam de tal jeito que essa demo caiu nas mãos do produtor responsável pelo grupo e todas estavam extremamente inspiradas pra fazer o barro acontecer. É de tirar do sério o quanto elas debocham do passado fazendo com que a música se rebobine a cada vez que ela ameaça “virar as coisas”. O pré-refrão mais melódico quebra a película cristalizada dos versos sincopados como quem anunciasse o retorno do mixxpop só pelo prazer da contradição. A segunda parte do “I wanna dash” desacelerando de propósito me arrepia todinha. 

Fico muito feliz de ver o NMIXX se arriscando em outras vizinhanças e sendo igualmente bem sucedido. Dash traz de forma subjetiva o poder feminino do hip hop de Mary J Blige e Lauryn Hill, transposta em vocais agudos de pirralhas que sabem bem o que estão fazendo, mas também é como uma cápsula do tempo esquecida, desenterrada por acidente. Não só porque ela traz essa nostalgia involuntária no instrumental muito bem feito, mas por ser, em alguma realidade paralela, o debut perfeito pra estampar o portfólio de uma grande empresa nessa nova geração. Nada me tira da cabeça que Dash é a música abandonada no meio do caminho, o projeto abortado por se considerar muito simples em prol da ganância da JYPE de ir com muita sede ao pote e acabar se afogando. Esse sim é um verdadeiro crime. 

Escute também: Run For Roses

Fiquei surpresa quando descobri que o EP anterior do NMIXX foi muito criticado, mas depois entendi que eram só os urubus que gostam da patifaria do mixxpop e não levei em consideração. Não é um trabalho tão memorável de qualquer forma. Agora esse novo aqui, que sabor! A tracklist é sólida e muito comprometida com as sonoridades que quer apresentar, além de se permitir experimentar sem a pedância de TCC que singles como O.O e Dice possuem. Adorei Passionfruit, é como se fosse um teletransporte pro primeiro álbum da Kelly Key, mas Run For Roses ganha pela prepotência ampliada. Se no single elas já tinham dado um gostinho amargo sobre retornar ou não com as experimentações, aqui rola um casamento perfeito de sonoridades, onde os versos caipiras e o refrão latino não têm nada a ver, mas ficam deliciosos juntos. Acho que se elas acertarem mais uma vez num próximo comeback, eu me declaro fã. 

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2 comentários sobre “Se gostar do novo NMIXX for um crime, eu estarei rebolando dentro de uma cela ao som de Dash

  1. Até hoje não entendo o debut do NMIXX, mas que bom que elas lançam muita porcaria e a SM subiu o nível porque se não fosse por isso o aespa ia ser o saco de pancadas da quarta geração.

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  2. a cereja no bolo é o próprio mv ser um grande shade ao de o.o, as paredes de pedra, as cenas na cidade, o “change up” nas rochas flutuantes… elas meio que encerraram um capítulo aqui

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