Dreamcatcher toma um caminho mais pop de um jeito não-convencional em OOTD

Faz um tempão que não me animo o bastante pra comentar um lançamento do Dreamcatcher aqui no blog porque, bom… Elas também não vinham ajudando essa tiazona que vos fala. Apesar de ser um grupo muito querido, que vem se adaptando na própria sonoridade e trazendo propostas interessantes, acho que elas perderam um pouco o rumo nos últimos singles e acabaram ficando de fora do meu radar, o que é bem chato. Ao longo desses anos, quem lê o AYO GG sabe que um comeback do Dreamcatcher é sempre um evento por aqui. 

Quer dizer então que dessa vez elas entraram novamente nos trilhos e trouxeram um rockzão satânico igual aos primeiros anos? Não. E, na verdade, esse é um retorno bem esquisito pros padrões do grupo, mas eu achei a tentativa válida e é por isso que me dei o trabalho de passar uns minutinhos do meu dia destrinchando OOTD, que provavelmente é uma sigla pra “outfit of the day”, o que só deixa os bastidores desse lançamento mais estranhos. 

O que deixa OOTD com essa roupagem mais pop é, justamente, se utilizar de elementos que não são nem um pouco pop. De cara, consigo associar a música ao The Downward Spiral, do Nine Inch Nails, que tem essa aura de desespero, de pessimismo, de “coisa suja”, principalmente traçando paralelos com o post-industrial de Closer, talvez a faixa mais caótica e problemática nesse emaranhado de sentimentos que o Trent Reznor expôs de peito aberto, mas aberto como numa cirurgia de alto risco sabendo que a melhor coisa que pode acontecer ali é morrer. 

Eu gosto de Nine Inch Nails e gosto principalmente de Closer, mas gosto mais ainda de ver um grupo feminino de kpop subverter essa sonoridade tão conturbada pra algo mais comercial. E não só isso: OOTD pega a lição de casa e transforma num hino de autoestima, dando uma nova característica ao já cansado girl crush. É como se o Trent Reznor fosse uma garota que tá com o antidepressivo em dia e aí a vida começa a girar em torno dela, tudo volta a fazer sentido e as tarefas diárias são só tarefas diárias, como levantar, tomar banho, arrumar a cama e, eventualmente, ser bonita.

É muito legal quando os envolvidos na estética sonora do Dreamcatcher mergulham de cabeça na próxima subcultura do rock que eles vão abordar porque tudo em OOTD grita Nine Inch Nails. Os sintetizadores pesados estão aqui, trabalhando como engrenagens enferrujadas de uma fábrica antiga já que é assim que eles soam no post-industrial, o que cria esse instrumental volátil e agressivo tal qual uma estufa nuclear prestes a explodir. Só que são mulheres cantando, algumas com vozes bem agudas, e essa é a injeção de vida que faz com que OOTD seja lida como pop. 

Sempre enxerguei o Dreamcatcher como um grupo que vai além da assinatura. Acho que elas são mais um grupo conceito, que existe pra homenagear, referenciar e, principalmente, desestigmatizar os dois campos pelos quais trabalha. De um lado, o rock, hoje em dia ainda muito machucado pelos medalhões do movimentos terem se transformado em tiozões ultraconservadores que detestam qualquer mínima mudança no gênero pra que ele cresça de acordo com as gerações que estão por vir. Do outro, o kpop (e o pop num geral), que sofre com a legítima falta de seriedade enquanto música mesmo, por ser visto como algo que só meninas, de forma pejorativa, consomem. Claro que OOTD não é a melhor coisa do ano ou da discografia do Dreamcatcher, mas enquanto elas beberem de fontes nem tão óbvias assim, todos os envolvidos só têm a ganhar. 

Escute também: Shatter

Esse EP marca uma nova era de lançamentos com temáticas parecidas pelo Dreamcatcher, mas talvez não seja a melhor tomada de decisões que eu já vi em questão de produções. Como poucos grupos experimentam como elas, dificilmente a gente vai ver outra tentativa de post-industrial no kpop, por isso fiquei meio decepcionada quando vi que a abordagem do VillainS não tem nada a ver com o que o single propõe. Quer dizer, nada de muito novo, mas enfim. Como fiquei com sede de ver o Dreamcatcher se aventurando por esses lados, achei que Shatter é que a que mais se aproxima disso e também estaria no The Downward Spiral se fosse a mente doentia do Trent Reznor trabalhando nela. O refrão é exatamente o que se espera de músicas como The Becoming e Eraser, como se as notas tivessem sido possuídas por algum espírito obsessor e vai consumindo a nossa sanidade aos poucos, principalmente lá pro final. 

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