Olha, nessa longa jornada pelo pop asiático, eu já vi meninas serem o tema central de alguma coisa várias vezes. Já vi o Girls Generation e seu ambicioso projeto de implementar o feminismo dizendo que essa era a geração das mulheres (pra logo depois expulsarem a integrante mais famosa e a outra roubar o solo dela); já vi uma versão mais simplificada disso (e com a grafia errada), que era o Girl’s Day, onde o objetivo era ser gostosa e rebolar de suspensório por ter levado uma galha; já vi o Wonder Girls, que, se a gente for parar pra pensar, é a versão coreana do Bonde das Maravilhas; já vi as garotas do parque, as garotas cósmicas, as garotas corajosas, até as namoradinhas eu já vi. Parece que o kpop gosta muito de usar a figura feminina pra dar sentido literal pros grupos.
Agora, não sei se é efeito do pós-modernismo ou se a falta de vergonha na cara é tão grande a ponto de assumir que tá metido com NFT em 2023, mas CAPITALISMO FEMININO é a primeira vez que eu vejo. Quer dizer, não exatamente a primeira vez, já que a senhora Maggie Thatcher foi pioneira no assunto quando soltou um belo de um cagão na cabeça do governou o Reino Unido por 11 anos, mas, sei lá… Ao mesmo tempo que não parece algo de bom tom, ainda assim lembram os tempos mais fáceis onde as empresas simplesmente não entendiam inglês e botavam seus idols em público vestindo camisetas com estampas duvidosas. Conhecendo o pateta do Jaden Jeong, sei que não é bem isso que ele quer resgatar.
Enfim.
Girls’ Capitalism é o single de estreia do LOVElution, a mais nova unit daquele grupo modular do Jaden que é uma mistura de NCT com o AKB48 (escrever essa frase outrora inimaginável me trouxe até um calafrio). E, apesar de ser uma ideia que não funciona tão bem assim no kpop por conta do sistema rotacional e a falta de vínculo com o espectador, eu admiro o esforço dele em criar todo esse ambiente complexo onde a premissa é ser um idol com inúmeras possibilidades. Teoricamente, o tripleS trabalha da mesma forma que o LOONA, onde aparentemente todas essas units compartilham o mesmo universo, mas com a altíssima rotatividade de integrantes, que se conectam entre o que ele chama de “dimensões” através da música, que são os “objetos”.
Tudo que foi lançado com o nome do tripleS tem sonoridades semelhantes, mas é legal notar que, ainda assim, cada unit tem sua própria identidade. Se a primeira transmitia uma personalidade mais cool e a outra se direcionava pro girly, o LOVElution é a prima louquinha. Assistindo ao MV, a sensação que me passa é de ouvir na minha cabeça de forma constante aquela frase da Lana Del Rey em Ride: I am fucking crazy but I am free. Não sei se entendi muito bem a crítica (ou se ao menos tinha uma), mas Girls’ Capitalism é, com certeza, engraçada. O fato delas se apresentarem como um grupo de garotas intimidadoras na foto do colégio com a sobreposição das cenas onde uma come um sabonete do nada e a outra usa um livro cujo título é “Como salvar dinheiro” pra, justamente, salvar o dinheiro desamassando as notas com o peso do próprio livro me arrancou umas risadas genuínas.
Como o Jaden adora uma auto-referência, eu diria que o andamento das units do tripleS seguem um certo padrão em relembrar o trabalho dele no LOONA. Já tivemos o ODD EYE CIRCLE (antes do ODD EYE CIRCLE original voltar pras mãos dele) e também a versão mais espevitada do ⅓. Então por que não relacionar toda essa doideira de Girls’ Capitalism com o falecido yyxy? A unit mais esquisita do LOONA traça paralelos com a unit mais esquisita do tripleS até então, ainda que por motivações completamente diferentes. O LOVElution parece ser aquele pedaço do grupo que vive num mundo à margem do real, vivendo situações inusitadas, e segue suas próprias regras, tal qual as seguidoras corrompidas pela Yves faziam. Apesar de narcisista, eu acho que essa mania de implementar ideias antigas de forma totalmente repaginada é o maior barato de se acompanhar o Jaden.
O universo ultra capitalista do LOVElution é, de certa maneira, charmoso. Representações exageradas da relação com o dinheiro, cenários com sacolas de compras gigantes e a letra hilária fazendo comparativos entre as qualidades de uma garota e a sociedade que a gente vive dão aquele ar de “kpop antigo e escrachado”, fazendo com que Girls’ Capitalism seja, até então, o produto mais interessante dessa safra de lançamentos do tripleS. Se existe uma crítica ao sistema capitalista em trucidar ursinhos de pelúcia em busca de algum trocado e dizer que o “fofo” está morto, ou mostrar um bando de meninas mercenárias e alucinadas por dinheiro pra, no fim, vestirem calça jeans e camiseta branca pra ensinar uma lição sobre como o consumismo exacerbado não leva a lugar nenhum eu não sei, mas às vezes é bom não enxergar nada além do pop, né?
Escute também: Speed Love
Fui atrás do post da outra unit do tripleS que eu escrevi e lá eu falo sobre como eu achava que o Jaden ia usar Dimension como uma ponte entre as units, já que, até aquele momento, cada uma tinha sua própria versão da música, mas eu acho que ele esqueceu disso ou simplesmente tacou o foda-se. Dimension é uma música bem legal em ambas as versões existentes e, vendo a proposta desse EP novo aqui, acho que caberia demais. Não aconteceu, mas a tracklist ainda assim é boa, apesar de muitas faixas parecerem entre si e deixar o resultado bem homogêneo. Destaquei Speed Love porque, além de ser a única que destoa do resto, também é um drum and bass bem gostoso e swingado, tipo aquela música do Kaleidoscópio que é a minha principal referência brasileira do gênero (descobri pra esse post que eles foram muito influentes na Ásia, então não duvidaria que Speed Love tenha pego inspiração daí).
Vocês sabiam que agora eu vendo minhas artes? Lá na Colab55 tem algumas opções de produtos com estampas que eu fiz e você pode comprar pra ajudar essa pobre coitada que escreve o blog.
Acompanhe o AYO GG nas redes sociais:
