Pois é, colegas, ele voltou. Aquele que vai ficando mais e mais temido a cada ano que passa porque eu vou me dando conta de que aquela idade que começa com “trin” e termina com “ta” está chegando a passos muito largos. Sim, é meu aniversário de 28 aninhos e, como já virou tradição aqui no blog, eu reservo o dia pra contar alguma particularidade que tenha a ver com aniversários num geral. Em 2021, eu dei meus 20 centavos sobre o debut da Somi, de forma bem despretensiosa. Ano passado, contei a história da Lee Gai, com quem eu compartilho a data e acabou se tornando um dos posts mais famosos do AYO GG (e que eu tenho muito orgulho de ter feito).
Dessa vez, não vai ser nada muito elaborado por eu ter voltado a trabalhar presencialmente e não ter tempo pra mais nada, mas resolvi retroceder uns dez anos pra relembrar de uma época importante. Nesse mesmo dia em 2013, eu completava minha maioridade, e não importa o quanto eu me esforce, parece que existe um abismo gigantesco que separa a Rafinha de 17 anos e a Rafaella de 18. Sinto realmente como se esse fato fosse um divisor de águas, ainda que, na prática, nada de muito especial tenha acontecido: um mês depois, eu terminaria meu namoro pela primeira vez, largaria o cursinho e passaria na Unesp pra prestar física em Rio Claro (só pra largar depois de um semestre). Achei interessante resgatar essas memórias e entender como meu gosto foi se moldando em dez músicas do pop asiático que, conhecendo na época do lançamento ou não, nunca largaram meus ouvidos desde o primeiro contato.
10. Ailee – U&I
Ouvir U&I faz com que a gente acredite num universo alternativo onde a Ailee manda e desmanda em tudo que acontece no kpop por ser aquela música perfeita que demonstra toda a força que os vocais dela tem (algo que era único naquela época), mas que não se restringe a baladinhas emocionantes. Aqui, a Ailee abre espaço pra catar tudo que uma diva pop precisava para ser diva e pop em 2013: um vozeirão que a colocava no nível da Beyoncé, uma brass band explosiva que socam trompetes na nossa fuça o tempo inteiro e, principalmente, uma demo R&B extremamente bem produzida. Ainda que a Ailee não tenha acontecido do jeito que se esperava, é impressionante como U&I se apropriou muito bem das tendências da época (principalmente um despertar coletivo a respeito dos direitos das mulheres que começou a rolar em conjunto) e deixou sementes pra que outras gatinhas fizessem o mesmo tempos depois. Pra quem saiu há dez anos, é um lançamento bem fresco.
09. After School – First Love
A essa altura, o After School respirava por aparelhos. A unit esquisitona lá palitava os dentes com o corpo morimbundo de um grupo que parecia perdido desde que a sua suprema havia se graduado. E, apesar de ótimas, as músicas nem se aproximavam do que um dia a Pledis vislumbrou pra esse projeto ambicioso de gostosonas que chegam, dão sua canetada e partem pra que outras gostosonas assumam seu posto. Em First Love, isso não aconteceu. O After School se manteve em oito pra dar sua cartada mais ousada, num plano que envolvia pole dance (!), inclusive nos stages (!!). E foi aqui que o grupo soltou o seu canto do cisne na Coreia do Sul, ainda que não soubessem: um canto tão melancólico e sentido sobre o primeiro amor numa ótica triste e erótica tal qual uma cena de Showgirls que, assim que eu vi pela primeira vez, eu fiquei impactada com aquela imagem na minha mente. Não ironicamente, é uma das produções mais bonitas do Brave Brothers e um fechamento quase fúnebre pra um grupo icônico da segunda geração.
08. f(x) – Signal
Eu já falei de Signal várias vezes aqui no blog, sobre como o f(x) transporta essa aura mágica do retrô pros nossos ouvidos de uma forma que poucos grupos conseguem fazer e como isso faz com que seja minha música favorita delas. Mas o curioso é que, mesmo sendo fã do f(x) por anos, Signal sempre passou despercebida por mim. O Pink Tape é aquele amontoado de sensações entrando constantemente em conflito e, nesse mar de influências, é bem fácil deixar uma música assim escapar. Engraçado também é essa ser a única contribuição da Kenzie, famosa por desovar faixas icônicas da SM, mas tudo é tão amarradinho que Signal se transforma numa dessas joias que reproduzem a exata sensação que um número retrô, por obrigação, precisa passar. É disco music anos 70 recheada de glitter e que, provavelmente, caiu nas mãos da Kylie Minogue antes de parar no álbum do f(x).
07. BESTie – Love Options
Não importa quantas gerações venham, Love Options sempre vai ser o suco de kpop. É a minha escolha quando alguém me pergunta o que é ou como soa porque ela causa as exatas sensações que eu espero de uma pessoa que não sabe o que vem por aí: aquele misto de estranheza, graça e confusão por não entender se realmente gostou do que ouviu. Bizarro como o BESTie nunca deixou de ser um grupo de chutadas do EXID com outro nome e propósito, mas serviram pedaços de pop extremamente radiofônicos pra época em que foram lançados. Mesmo que sem querer, Love Options é uma caricatura congelada de tempos mais simples, onde ninguém pensava em sucesso internacional ou reinvenção da roda; era mais sobre estar apaixonada das formas mais hilárias e até específicas possíveis, como a amostra de cultura nichada no verso um pouco alto e um pouco parecido com o Gang Dongwon, é o que faz o kpop ser tão especial.
06. SNSD – Motorcycle
Talvez o último grande ano do SNSD tenha sido 2013. Aconteceram coisas legais depois, como Lion Heart roubando todos os prêmios dos Raul Gils da vida e, por algum tempo, segurando o posto de música mais bem pontuada no MCountdown, além do comeback legal de 10 anos que todo mundo (inclusive eu) achou que seria o último da carreira até elas voltarem pro comeback de 15 anos, enfim… Elas foram vivendo como dava, mas a relevância palpável do SNSD, daquilo de serem como deusas intocáveis do Olimpo e que serviram de modelo para outras dezenas de grupos que iam surgindo (pelos olhos da imprensa), durou mesmo até o Love & Peace. A performance de Motorcycle é um desses motivos: a música é divertida e o vídeo até que é bem comum, mas elas conseguem elevar o status de qualquer coisa com carisma e presença de palco. Por isso mesmo uma faixa tão comum quanto Motorcycle me marca tanto. Mesmo não sabendo que, logo depois, as coisas iriam desmoronar, elas acabaram dando tudo de si numa álbum track japonesa.
05. Kavka Shishido – Love Corrida
Para além dos cabelos mais sedosos e alinhados que você já viu na sua vida, a Kavka Shishido é uma dessas artistas que só o Japão pode proporcionar. Uma mulher de 1,75m aficcionada por preto (inclusive é daí que o nome artístico dela vem, kavka quer dizer corvo em tcheco) e baterista com ares de diva pop, além dos fios tratados na escola de cabeleireiros Kashiyuka que esvoaçam como uma propaganda de shampoo. Já Love Corrida é uma daquelas músicas que soam pop quase sem querer, como se a própria Kavka estivesse odiando estar nesse lugar tão incomum, ao mesmo tempo em que, secretamente, deseja fazer mais coisas assim. O clipe é exatamente o que se espera pra 2013, essa disputa de espaço entre coloridos desajustados e… P&Bs totalmente meticulosos, até que eles se fundem nesse caos de “tribos” tão diferentes por um bem maior (no caso, curtirem a música). Uma narrativa bobinha que projetou a carreira da Kavka e deve ser sua música-assinatura até hoje.
04. Girl’s Day – Expectation
Enquanto eu fazia esse post, dei uma olhada na seção de comentários de Expectation e é muito engraçada a nossa percepção do que é ou não bom. Dez anos atrás, quando a gente ainda era jovem, ver o Girl’s Day virando a chave e praticamente fundando o sexy concept foi algo que marcou. E aí, dentro da nossa bolha blindada de nostalgia, é comum comparar os lançamentos de agora com o que a gente ouvia no passado e reproduzir aquela máxima de “na minha época”, sendo que muitas coisas não funcionam hoje em dia porque não somos mais o público-alvo. E tá tudo bem. Só que, no caso de Expectation, acho que a teoria acaba sendo uma exceção. Poucas músicas conseguem evocar com perfeição esse sentimento amargo de vingança e a vontade de ser a mulher mais gostosa do planeta só pra mostrar pro ex que ele foi superado. Em 2013, um delineado preto marcado e roupas mais curtas representavam muito bem o amadurecimento. Nem parece que, meses depois, abririam uma toca de coelho na vida da ex-presidenta da Coreia do Sul.
03. Sunmi – 24 Hours
Na época do lançamento, 24 Hours era uma febre. Junto com Alone, do Sistar, era a música preferida para boygroups performarem nos programas de TV e mostrarem toda a sua, ahm, “feminilidade”, ou seja lá o que eles queriam provar com isso. O fato é que o debut da Sunmi foi estrondoso e permaneceu no imaginário do coreano médio por muito tempo. Imagina você tirar umas férias do seu grupo que, digno de nota, era um dos mais importantes daquela geração e se dedicar aos estudos, só pra voltar com um dos debuts mais ousados e frenéticos até aquele presente momento. 24 Hours tinha uma proposta diferente pra JYPE (na verdade, a proposta era ser uma nova Coming of Age Ceremony, mas enfim), apostaram tudo para vê-la funcionando e, na real, ela só funciona porque uma gama de fatores se juntaram no tempo e lugar certo. Ninguém poderia entregar 24 Hours como a Sunmi entregou, e talvez seja até por isso que tanta gente tentou dar a sua versão na época, mas somente uma pessoa poderia performar uma paixão tão avassaladora assim.
02. 9MUSES – Gun
É sempre muito difícil escolher uma música icônica do 9MUSES porque elas, claramente, têm a singlegrafia mais forte de todos os girlgroups coreanos que já pisaram nesse planeta. Ainda que fosse limitado a isso (os singles), cada lançamento era uma nova pedrada com um replay factor enorme e que custava a sair da cabeça, mas já faz um bom tempo que eu nomeei Gun como a minha favorita entre todas elas. Acho que é o 9MUSES no seu ápice, juntando todos os pontos em que era muito bom, como o pop safadíssimo de qualidade e as micro roupas coladas ao corpo que só ganhavam ainda mais vida com a coreografia sacana. Todas as nove brilham aqui, mesmo com esse filtro amarelado que faz com que o MV pareça um filme hollywoodiano sobre a América Latina, mas nada como uma sexualização feminina de leve em cima de uns trompetes num posto de gasolina no meio do deserto pra fazer a história de uma faixa como essa ser ainda mais memorável.
01. Perfume – Magic of Love
Se você já é leitor de longa data aqui do blog, deve saber que o Perfume é meu grupo favorito de, tipo, todos. Mesmo nas fases mais baixas e sofridas, o trio nunca deixou de me encantar nos mínimos detalhes, seja pela videografia impecável ou pelo fator viciante dos popzinhos malucos do Nakata. Elas sempre estiveram ali pra eu esquecer um pouco da realidade e consumir o maior número de informações possíveis quando eu tinha vontade, como maratonar os vídeos, assistir horas de shows, saber tudo sobre bastidores… Enfim, Perfume é um grupo que vem e vai de acordo com a minha própria demanda, mas se tem algo que eu nunca vou deixar de gostar com a mesma intensidade é Magic of Love. É impressionante como ela consegue soar retrô e futurista nas mesmas medidas, como um produto perdido no tempo e espaço e que, provavelmente, não é terrestre. Porque não é, sabe? E combinado com o MV, é um tiro certeiro pra deixar minhas emoções fluírem. Hoje mesmo, fazendo esse post e assistindo pra poder escrever, eu chorei. Magic of Love evoca as melhores sensações que eu poderia ter, traz lembranças boas de uma época mais simples, talvez até mais… Genuína. É o melhor abraço que meu eu de 28 anos poderia receber no aniversário.
Vocês sabiam que agora eu vendo minhas artes? Lá na Colab55 tem algumas opções de produtos com estampas que eu fiz e você pode comprar pra ajudar essa pobre coitada que escreve o blog.
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😍
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Parabéns, Rafa ❤
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Parabéns atrasado :))
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