A Heize é uma incógnita pra mim. Ao mesmo tempo em que eu quero muito gostar do que ela lança, eu simplesmente não consigo engolir a maioria das músicas, principalmente por fugirem do popzinho de menina que eu gosto tanto. Mas foi até bom que a minha visão esteja mudando em relação a ela desde o ano passado, ainda que o single tenha vencido rapidinho comigo.
Por isso, visando o fato de ter ido trabalhar presencialmente no escritório hoje, eu não liguei tanto assim pro novo álbum dela. Se eu lembrasse de escutar quando chegasse em casa, tudo bem; se não, tudo bem também. Até o Lunei do Miojo Pop tweetar o teaser de Undo clamando ser “a música do ano”. Ai, se eu não tivesse dado play naquele vídeo…
Quer saber o que eu achei de Undo? Então dá uma olhada no MV antes.
Mesmo não gostando tanto assim da Heize como solista, eu sabia que ela conseguia encarnar alguns personagens muito bem: a romântica, a preppy, a hipster e, principalmente, a dramática. Dá pra perceber que existe uma entrega que atravessa as barreiras da música comum coreana e se torna arte nas mãos dela, algo que, sem controle criativo o bastante, pode parecer muito raso e extremamente podado. Então eu meio que entendo o apelo que ela tem, ainda que não seja o tipo de música que eu acorde num dia e queira ouvir de forma orgânica.
Só que eu nunca imaginaria a Heize executando o papel de ex-namorada fria, de maquiagem borrada e que sai pelas ruas dirigindo um conversível enquanto a fumaça do cigarro voa com o vento. É uma roupagem muito comum se a gente estivesse vasculhando o feed do Tumblr em 2013, onde infinitos quotes do álbum Electra Heart faziam a cabeça dos jovens que, assim como a Marina, diziam fazer parte do Lonely Hearts Club. O que é louco porque, quando eu assisto ao MV, a sensação de estar na página inicial de um blog desses é muito forte, mas numa abordagem fantasiosa, liminar, uma nostalgia tão enterrada que talvez nem exista. Assim como as nossas decepções amorosas da época.
Undo acaba caindo nesse conflito interno de parecer adulta demais em um espaço que é adulto de menos. Os sentimentos de apatia na letra e nas próprias expressões da Heize são quase adolescentes e acho que isso, somado ao fato de ultrapassar as minhas expectativas pro lançamento, me fascina. Eu sou completamente tomada pela Heize dizendo numa voz crua e ecoante que o amor acabou “em duas ou três palavras” como se nunca tivesse acontecido. É um disco pop propositalmente melancólico, como se fosse feito com a justificativa de chamar atenção da outra parte e fazer questão que ela veja e sinta tudo. Tem algo que cheire mais à puberdade que isso?
Talvez eu esperasse tudo de Undo, menos o que de fato é. E, talvez, fosse tudo o que eu precisava ouvir depois de passar o dia fora feito a adulta que eu sou. Undo é elegantemente visceral, desprezível, odiosa, mas também é genuína e cheia de sentimento, mesmo que a Heize diga que ela já não é mais a garota de antes. Na verdade, não tem como a gente apagar memórias; elas se transformam e nos transformam junto. É assim que eu vejo Undo: como se a Heize fosse um grande museu de memórias e agora estamos passando pela seção Lonely Hearts Club, onde uma vadia loira de microvestido sente suas veias pulsando com o veneno da decepção, quebrando por dentro. Todo mundo já foi um pouco disso, mas só a Heize tem coragem o bastante de expor as feiuras filosóficas do processo de sofrer.
O álbum, pelo contrário, é bem chatinho… Que pena, né? Como eu to com muito sono e logo todo meu esforço de oito horas vai ser enxugado da máquina pública pelo presidente, troquei o tempo que eu usaria pra comentar uma faixa-destaque pela minha cama.
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Amo essa mulher desde que ela se fez de robô humanoide em Mianhae (Soory), que tudo pra mim!!
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