Comercial AYO GG | LILAC, por IU

Olá, gente boa! Como vocês estão? Preparados pra mais uma review do Comercial? Tirei umas férias prolongadas do quadro por conta do rombo psicológico que a Chungha deixou em mim (em todos nós, pra ser honesta), mas agora eu estou recuperada e aproveitei esse feriadão aqui em São Paulo pra trazer uma review mais trabalhada. 

Dessa vez, não tinha como ser diferente, afinal todo mundo que acompanha o pop asiático, inclusive a blogosfera, falou sobre essa menina na semana em que ela fez seu retorno. Não é pra menos, pois IU desovou seu primeiro álbum de estúdio depois de quase quatro anos. O sucessor do renomado Palette nasceu, e com ele, uma crescente vontade de se despedir do maior amor da sua vida: ela mesma.

LILAC é uma jornada de dez músicas em busca de maneiras mais confortáveis de se passar por um novo ciclo. Parecia distante, mas a IU logo terá 30 anos e esse desejo de se desvencilhar da imagem de “irmãzinha” veio à tona, permeando por todo o álbum, intrínseco e pulsante. O trem figurado finalmente chegou na estação e ela está mais do que preparada pra embarcar, sentindo e aceitando cada pedacinho de emoção que essa nova aventura pode trazer. 

As malas já estão prontas. Chega mais nessa review detalhada de LILAC, da IU!

1. LILAC

80/100 

A faixa-título é, com todas as letras, o melhor lançamento da IU em anos. É simpático, doce e extremamente melancólico, daquelas músicas que nos fazem lembrar de sensações e acontecimentos bons. LILAC é super sinestésica, um feito inacreditável até mesmo pra quem já tem o costume de “sentir” as músicas. Ela exala um cheiro de lavanda, de roupa recém lavada, de banho… De primavera. 

E, falando em primavera, LILAC conecta três pontos de forma brilhante: uma estação de trem, uma estação do ano e uma estação da vida. Na plataforma, IU espera pelo trem que vai buscá-la, dando início a sua nova jornada; desabrochar feito flores na primavera. Segundo a própria IU, ela recorreu ao lilás por ser a flor que representa as memórias da juventude, o que é perfeito para simbolizar esse fechamento de ciclo. Nada como um batismo de pétalas de lilás. 

O MV também tem muitos significados legais, como é possível ver na passagem de ida nas mãos dela logo no começo. A plataforma 12 (anos de carreira), o assento 29 (idade), ticket número 0325 (data do lançamento), origem e destino (olá e adeus aos 20 anos, suas memórias de juventude gravadas no lilás), um adulto (ela mesma). O painel de destinos também faz referência a todos seus lançamentos, com um ponto interessante de o primeiro letreiro mostrar, justamente, o álbum The Spring of Twenty. 

O fato da IU se jogar em um city pop é um indício de um possível amadurecimento musical, arriscando coisas novas para compor seu catálogo. LILAC é um número muito bem executado, com o instrumental forte marcado por uma guitarra funk e um belíssimo saxofone, que faz o contraste ideal com a voz delicada que ela tem, de quem anseia pelo que vem pela frente. Com certeza, foi uma bela despedida. 

2. Flu

65/100 

Entre o fim dos seus 20 anos e a chegada dos 30, IU pega uma gripe. Flu é uma representação caricata de se sentir doente e fraca demais pra assumir suas responsabilidades, música essa que soa completamente descompromissada e desmonta a melancolia sonora que sua antecessora havia deixado. É um número engraçadinho típico da IU, de pegar uma situação comum e transformá-la em narrativa. 

Apesar de parecer uma música bem clichê sobre como é se apaixonar a ponto de ficar doente, Flu tem fortes indícios de estar falando de mais ninguém senão ela mesma. Quando estamos mais próximos dos 30 do que dos 20, é muito comum essa sensação de impotência, de medo por não ter nada pra se orgulhar. É quase uma quebra de paradigmas, esse fato de se encher de esperança pelo futuro até o outro dia chegar acaba sendo bastante comum. É a famosa crise de um quarto de idade. 

Tomando a história do álbum, é como se a IU tivesse chegado ao seu destino, talvez em um hotel, e acordado de ressaca: física, moral e emocional. A ficha de estar alcançando um novo patamar na sua vida finalmente caiu e o corpo todo dói, a vontade de se esparramar na cama cresce. É mais confortável deixar tudo pra depois e fingir um resfriado. A IU interpreta isso muito bem em Flu.

3. Coin

70/100

Depois de se recuperar, IU segue desbravando a cidade. Ela não é mais a mocinha esperançosa esperando o trem em LILAC, e nem a desafortunada deprimida em Flu. Agora, ela está pronta pra se lançar à própria sorte, se aventurando por universos que jamais havia explorado. Usando aposta como tema central, Coin é a virada de chave da IU em busca da sua independência nessa nova fase.

Coin traz de volta a guitarra funk e, utilizando um registro vocal mais grave, IU deixa claro que ela amadureceu e está pronta para os 30 anos. Isso fica muito claro quando ela puxa o refrão “I can’t die, I’m all in!”; é sobre viver cada experiência de maneira única, se entregando por completo pra esse jogo chamado vida. 

O MV, apesar de deixar claro que se trata de jogos de azar, é bem lúdico, respeitando as normas coreanas para não ser interpretado como apologia. Aqui, os naipes do baralho são trocados por cartas coloridas e apostadores por animais esculpidos em papel, tudo pra fugir das semelhanças de um cassino de verdade. Porém, é interessante observar como essas mudanças contribuem com detalhes da história: enquanto a IU ganha suas apostas, todo o cenário é colorido, iluminado, bem infantil, como se afirmasse a facilidade que ela tem em conquistar tudo que quer.

Só que não se pode ganhar sempre. É o que acontece quando o único humano além dela faz sua aparição, demonstrando que, algumas vezes, desafios mais difíceis se fazem necessários para que a gente possa crescer. IU aposta sua ficha dourada (sua única ficha da sorte) e perde, porque a vida é assim. Mas a vida também te dá novas chances de não cometer os mesmos erros. O que foi mostrado aqui é a representação figurativa de experiência: quanto mais você cresce, mais aprende. 

4. Hi spring Bye

40/100

Se jogando em um estilo mais nostálgico, Hi spring Bye é a primeira balada do álbum e acaba quebrando todo o dinamismo que havia sido construído até o momento. Apesar de ser o gênero que consagra a IU como a grande solista que ela é na Coreia do Sul, a música faz uma grande revisitação a todas as outras baladas que ela já gravou na carreira. Ou seja, não traz nada de novo e não acrescenta muito ao álbum. É só escutar e esperar passar.

Sobre a letra, é uma versão dolorosa da bela despedida que foi criada na faixa-título. Hi spring Bye condensa em um pouco mais de cinco minutos todo o processo de amadurecimento que a IU teve de passar consigo mesma ao longo dos anos, fazendo uma reflexão pessoal sobre os acontecimentos enquanto relembra e se despede do seu eu mais jovem. 

5. Celebrity

45/100 

Celebrity foi o pré-lançamento que angariou diversos prêmios e conquistas pra IU até o lançamento de LILAC, mas na verdade não foi um número que agregou tanto pro hype na época. Ele realmente só ganha mais significado quando ligamos a música ao restante da narrativa do álbum, ou seja: foi uma péssima escolha se formos levar em conta que um pré-lançamento serve pra criar expectativas em cima do lançamento oficial. 

A relevância de Celebrity se faz presente agora que temos acesso ao álbum inteiro. Aqui, a IU dedica a cada uma das suas personas, fragmentadas em diferentes personagens, todo o seu amor e carinho. Desde a adolescente que estreou como cantora até a solista mais importante da sua nação, todos esses pedacinhos da IU contribuíram pra ela ser quem ela é hoje, e todos são uma celebridade. Uma pena que a sonoridade tão genérica perca um pouco do recado bonito que é dito aqui.

Abraçar nossas falhas é parte do crescimento, e é exatamente o que Celebrity faz. Seja sob os holofotes ou no canto escuro de um quarto, reconhecer tudo o que nos compõe é importante pra que possamos ser adultos livres de qualquer culpa ou arrependimento. Isso acaba fazendo mais sentido com a recente entrevista da IU onde ela disse que costumava se odiar. É como se ela se olhasse no espelho e dissesse bem baixinho: “você é linda e eu te amo”. A mensagem que fica ao final é que todos nós deveríamos ser nossos próprios ídolos.

6. Troll (feat. DEAN)

60/100

Com a única parceria do álbum, IU e DEAN tecem uma discussão acerca de um relacionamento fadado ao fracasso. Troll é uma música embalada por um R&B super simpático e alguns elementos de bossa nova, cantada sem muita expressão justamente pra representar esse cansaço de fazer um amor tóxico acontecer. 

O objetivo de Troll é mostrar que relacionamentos assim já não funcionam muito quando se é mais velho. Mas, se não existe mais disposição pra se viver em pé de guerra e ter ciúmes por coisas triviais, por que o casal da letra continua juntos? Às vezes, nossas relações caem na mesmice por conforto, por familiaridade, por ser mais fácil aceitar a mesma rotina de sempre do que buscar algo novo. E, muitas das vezes, nenhum dos lados está exatamente errado.

O fato de Troll ser semelhante a uma música de elevador diz muito sobre a história que ela quer contar. É como uma canção tediosa que vive tocando de plano de fundo enquanto os dois espalham amores e ódios, dúvidas e sentimentos retorcidos com um cheiro de nostalgia do que um dia eles foram. Escolha super inteligente para que o ouvinte acabe tendo sensações semelhantes. 

7. Empty Cup

55/100

Ainda no âmbito dos relacionamentos, IU entrega uma versão mais apática do que é estar cansado de amar. Empty Cup é um voz e violão que atua como um interlúdio, dissecando a realidade de uma relação onde já não existe mais nenhum resquício de sentimento. É como estar exausta demais para tomar uma atitude, esperando que a outra parte se canse também e jogue tudo pro alto. 

Tomando a máxima da perspectiva de um copo cheio até a metade, a sensação que Empty Cup me passa é de estar afundada na cama sem ânimo de viver, desejando que alguém me odeie o suficiente pra fazer o trabalho sujo por mim. Aqui, a IU enxerga o copo meio vazio, pessimista e infeliz o suficiente pra não ter forças de dizer que aquele amor morreu. A vida adulta pode nos engolir a ponto de não querer mais nada além do desprezo alheio. 

8. My Sea

75/100

A segunda balada do álbum, My Sea, demonstra ter muito mais pulso que a anterior. Isso porque a letra emocionante é o momento de maior fragilidade da IU nesse álbum, refletindo sobre todas as mudanças que a acompanharam desde quando ela era uma criança. Também chamada de The Sea of a Kid and I na tradução direta do coreano, a música traz uma progressão impressionante que te deixa sem fôlego por bons minutos. É como observar o mar, desbravá-lo e sentir a quebra das ondas contra o corpo, enquanto a maresia embala seu corpo em um vento gelado. 

My Sea brilha em sua narrativa sensível e com grandes chances de identificação por parte do ouvinte. IU conta como costumava ser cheia de sonhos na infância, de ter um mar dentro do seu coração e, na medida em que foi crescendo, esse mar secou e passou a existir apenas em alguns pequenos pontos. É aquela sensação de virar adulto e perceber a realidade das coisas, quando a melancolia te destrói nas noites mais solitárias. É sobre se olhar no espelho e não reconhecer nenhum traço. 

É fácil se sentir intimidado a ouvir essa música por conta dos seus quase seis minutos, mas para que a evolução dela acontecesse da melhor forma possível, foi necessário que My Sea fosse grande (a maior do álbum e a maior que eu já ouvi no kpop). A IU precisava desse tempo para que pudesse desenvolver de forma coerente e emocionante tudo que estava preso dentro de si, e o resultado final não decepciona. 

Acho que My Sea é uma das melhores demonstrações das dores e amores de se tornar adulto. É um número agridoce, que te deixa com um nó na garganta ao mesmo tempo que se transforma em um abraço caloroso de alguém que entende o que você está passando. Em um dos mais bonitos fechamentos que eu já ouvi, IU deixa uma síntese sobre toda essa comparação entre o mar e a idade adulta. 

Não vou mais fingir que não me conheço

Mas às vezes a gente acaba perdendo pra vida

E mesmo que eu me perca, eu sei o caminho de volta

9. Ah Puh

60/100

E se a vida é um mar, por que não surfá-la? É a proposta que a IU traz em Ah Puh, com a sua melhor personalidade sarcástica. Como uma brincadeira, aqui ela tira onda com o novo ciclo que está chegando, sabendo muito bem que ela pode levar um caldo a qualquer momento. Qualquer coisa, ela vira uma bolha e desaparece. 

Musicalmente, eu tinha notado algumas semelhanças com os números mais divertidos do AKMU, como 200% e Dinosaur, até perceber que Ah Puh foi escrita pelo Chanhyuk. As características do duo estão bem ressaltadas, com diversos jogos de palavras e cacofonias que deixam a música mais dinâmica e divertida de cantar, enquanto a IU extrai todo o surf pop que os Beach Boys poderiam oferecer nos anos 60. 

10. Epilogue

55/100

Como os créditos de um filme, Epilogue é o último sinal de adeus que a IU faz aos seus 20 anos. Mas um adeus simbólico, já que fica claro que ela não pretende abandonar todos os momentos que fizeram ela ser quem é hoje, recheando a música de questionamentos que são respondidos silenciosamente quando ela diz que vai colocar a cabeça no travesseiro de forma tranquila.

Epilogue também é dedicada aos tantos fãs que acompanharam sua carreira durante esse tempo, assim como as perguntas também são direcionadas a eles. IU gostaria de saber se foi bom amá-la, se foi bom tê-la por perto e seria muito significante se todas as respostas para essas questões fossem um “sim”. 

IU sai do palco e as luzes se apagam enquanto essa velha canção ecoa pelo estúdio, como uma fita cassete encontrada depois de muito tempo. É o final feliz perfeito para sua linda história de amor próprio, de descobertas e de sonhos realizados, ao passo em que a música deixa aberto o anseio do retorno de uma artista muito melhor em seus recém 30 anos de idade. 

LILAC é um álbum que celebra a vida em sua totalidade. É um lançamento sincero de quem começou muito jovem e sempre buscou a aprovação do público, de quem cresceu com todos os olhos virados para si. IU fez uma ótima revisitação a todos os seus lançamentos anteriores, e o resultado foi um álbum diverso, plural, com personalidade. Pode não ter sido o melhor da safra, mas a sinceridade e transparência de uma artista veterana contam pontos aqui. 

É possível observar vários aspectos da IU em LILAC, tornando o álbum uma espécie de caleidoscópio particular. A sensibilidade das suas maiores baladas, como em Through the Night e Love Poem, as performances teatrais de Good Day, You&I e The Red Shoes, o sarcasmo de Twenty Three, a diversão de BBIBBI e Blueming, a descontração de Friday e Palette… São todas pequenas peças do quebra-cabeças que forma a artista que conhecemos hoje. 

Se eu fosse resumir LILAC em uma palavra, eu diria aceitação. É um longo processo de entendimento, aprendizado e, finalmente, aceitação de todos os momentos que ela passou. Por isso a diversidade sonora do álbum cumpre um papel tão importante aqui, porque somente dessa forma a IU conseguiria aceitar tão bem essa nova fase da sua vida. Assim, todos nós conseguimos virar a página e esperar os próximos capítulos. 

Média final: 61/100

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